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SÉRGIO DÁVILA
"Rivais 2 -
A Missão"
ELE ESTAVA se sentindo tão
bem acolhido que escreveu
uma carta ao amigo, então
embaixador dos EUA no Brasil: "O
presidente tem me tratado sempre
com tanta gentileza pessoal e tem
manifestado sempre tamanha justiça e integridade de propósitos
que eu não me sinto livre para
abandonar minha confiança... Assim, sigo trabalhando".
O autor é Salmon P. Chase, um
dos presidenciáveis da corrida de
1860 à Casa Branca.
Na correspondência ao ex-editor
James Watson Webb, então estacionado no Rio, mostrava-se inconformado por ter perdido a eleição para um advogado de Illinois
relativamente desconhecido e sem
experiência executiva, mas surpreso por ter sido convidado para fazer parte de seu governo.
Abraham Lincoln (1809-1865)
chocou a política da época ao chamar Chase para ser seu secretário
do Tesouro. Convenceu ainda outros dois que disputaram com ele a
indicação do partido nas primárias,
William H. Seward, que ficou com
o Estado (no cargo, comprou o
Alasca da Rússia), e Edward Bates,
para secretário da Justiça.
Décimo-sexto presidente dos
EUA, de 1861 e até ser assassinado,
em 1865, o republicano manteve o
país unido em um momento crítico. Fez isso também pela composição de um gabinete que ficou conhecido como "time de rivais".
Foi mais por pragmatismo que
magnanimidade -sabia que era
melhor manter os inimigos sob o
mesmo teto e ao alcance da mão do
que conspirando pelos salões de
Washington. Sobre o fato de Chase
continuar a atacá-lo mesmo já no
governo, por exemplo, Lincoln diria que, "como a mosca azul, ele botaria seus ovos em qualquer lugar
podre que encontrasse".
Eis o homem que inspira o 44º
presidente, que toma posse em 17
dias. Não só porque ambos escolheram Illinois como berço político
(Lincoln era do Kentucky, Barack
Obama nasceu no Havaí) ou dividiram a mesma profissão. Os desafios são igualmente terríveis
-Guerra Civil e escravidão então;
guerras do Iraque e do Afeganistão
e recessão histórica agora.
A admiração do democrata pelo
republicano não é segredo. Ele já
foi flagrado levando debaixo do
braço o livro "Team of Rivals"
(2005), o relato da vencedora do
Pulitzer Doris Kearns Goodwin sobre o gabinete de Lincoln. Vai retraçar o roteiro de trem do republicano nos dias que antecedem a
posse e fará o juramento na mesma
Bíblia em que ele pousou a mão.
Além disso, Obama levou quatro
ex-concorrentes para seu gabinete:
Joe Biden como vice, Bill Richardson no Comércio, Tom Vilsack na
Agricultura, Hillary Clinton no Estado. Desses, a ex-primeira-dama é
a aposta mais arriscada. Como
Chase em 1861, suas ambições presidenciais não morreram, apenas
dormem.
SÉRGIO DÁVILA é correspondente em Washington.
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