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ELIANE CANTANHÊDE
No ano que vem tem mais
BRASÍLIA - Ok, o Brasil não tem
tsunami, terremoto, furacão ou nevasca. Mas tem o flagelo da seca e a
tragédia das chuvas que devastam e
matam. A diferença é que a seca
mata de geração em geração, lentamente, dia após dia, longe das redes
de TV e da grande imprensa, enquanto as chuvas matam de repente, sorrateiramente, diante das câmeras, das fotos e dos repórteres. A
seca do Nordeste empurra os filhos
do Brasil para o Sul maravilha. E as
chuvas no Sul maravilha fazem o Brasil inteiro chorar.
A virada de 2009 para 2010 no
Brasil inunda as redes mundiais de
notícias e confronta as realidades
dos dois Brasis: o do esplendoroso
espetáculo dos fogos do Réveillon
em Copacabana e o que sucumbe à
lama, à falta de planejamento e à ocupação irregular de encostas.
O contraste vai para as telas e para as páginas, alternando ora pessoas de todas as idades, felizes e em
festa, ora as que choram a perda de
filhos, mulheres, maridos, pais,
mães, amores, não raro famílias inteiras. Ou que, simplesmente, perderam suas casas e todos os seus
pertences sob a força da água.
Sem emprego e sem os dentes da
frente, um homem ainda jovem
olha para a câmera e declara, em
choque: "Perdi tudo, até o que nem acabei de pagar". Ele teve sorte.
Há meia centena de mortos só no
Rio, seja em bairros pobres, seja na
paradisíaca Angra dos Reis, deixando como mártir da virada do ano a
menininha Mariana, de três anos,
que passou horas soterrada, foi retirada sob o uivo doído e comovente
de um bombeiro e acabou morrendo no hospital.
Tragédias assim têm causas naturais, sim, mas têm também a enorme responsabilidade do poder público e o empurrão da imprevidência, da ganância ou da simples ignorância. E deixam um grito e um eco:
prevenir, prevenir, prevenir. Porque, no que vem, tem mais.
PS - Onde estava Sérgio Cabral?
O candidato de fato à reeleição é o vice, Luiz Fernando Pezão?
elianec@uol.com.br
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