São Paulo, segunda-feira, 03 de janeiro de 2011

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RICARDO YOUNG

Erramos...

No editorial de sábado passado desta Folha, tarefas fundamentais para um novo ciclo de desenvolvimento são reivindicadas ao novo governo com precisão.
Porém dois aspectos centrais para qualificar esse novo ciclo não foram nem sequer citados. Um aspecto inequívoco do ano que termina é que há uma mobilização progressiva dos cidadãos com o futuro sustentável do planeta.
Mas não é só em torno da sustentabilidade que a sociedade civil está organizada. Ela está participando ativamente de temas que vão do combate à corrupção, ética na política, liberdade de expressão, consumo consciente, integridade na gestão pública, direito à educação e uma série de temas que têm feito as redes sociais "bombarem".
Isto significa que governos e sociedade precisam encontrar campos de parceria, novos modelos de participação e representação na esfera pública.
Nenhuma palavra foi mencionada acerca do "Conselhão" (Conselho de Desenvolvimento Social da Presidência da República). Este espaço, de início uma inovação e, depois do mensalão, cooptado com mão de ferro, poderia voltar a ser esse campo por excelência.
Quanto à sustentabilidade, a agenda é extensa e urgente.
Da pauta já colocada, a regulamentação da Lei das Mudanças Climáticas, a revisão consciente do Código Florestal, a implantação da Lei dos Resíduos Sólidos, a revisão da Política Nacional de Energia e o projeto de lei, ora em audiência pública, da Produção e Consumo Conscientes, exigidos pelo Protocolo de Marrakech, ilustram o que está por vir e pelo que a sociedade civil está se mobilizando.
Isso para não citar os esboços de acordos sobre biodiversidade e clima obtidos em Nagoya e Cancún. Os governos terão de sair da sua posição defensiva, pois a pressão social cresce exponencialmente, e o Brasil tem um papel de liderança indelegável nestes temas.
Avanços existiram, mas, francamente, absolutamente insuficientes. Realizar esta agenda vai exigir muita vontade política e também muito investimento. Eis o grande desafio para os governos (federal e estaduais) que se iniciaram anteontem. Estamos falando de criar uma outra economia, verde, inclusiva e responsável, que alavanque um país mais justo e igualitário com uma nova dinâmica de participação da sociedade.
Dilma Rousseff terá esta gigantesca tarefa sob sua responsabilidade, com cenário interno e externo favorável a transformações. Pena que, como no editorial de sábado, o espaço para este imperioso desafio foi para a margem da margem em seu discurso de posse.

RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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