|
Próximo Texto | Índice
JUSTIÇA SOCIAL E IMPACIÊNCIA
O que mais ressalta no discurso da
segunda posse de Fernando Henrique Cardoso é o quanto o presidente
conservou dos princípios e das diretrizes anunciados há quatro anos, no
início do seu primeiro mandato.
Decerto ninguém de bom senso deveria esperar mudanças inopinadas.
Mas a semelhança de idéias, se indica
firmeza e consciência de atos e projetos, não deixa de causar certo incômodo, pois quatro anos se passaram
e o próprio presidente sublinhou ontem que muito aprendeu tanto com
os acertos como com os erros de seu
primeiro governo. Mas ao fim do discurso ficou a impressão de que os erros não teriam sido relevantes o bastante para ser mencionados ou para
fazer com que o início do novo mandato fosse marcado por um pronunciamento com novas ênfases, as
quais procurariam dar conta das falhas passadas.
Um texto de posse, é óbvio, não dá o
tom de todas as futuras ações do presidente. Mas as linhas decisivas de
governo parecem ser conservadas.
Sem dúvida FHC procurou enfatizar
em seu discurso termos que indicam
preocupação social e que, simbolicamente, fazem referência à centro-esquerda européia renovada: país solidário, democracia radical, democratização do mercado. A isso agregou
frases como "pouco vale ao país ser a
oitava economia mundial se continuarmos entre os primeiros na desigualdade social". Ou "o Brasil espera
com impaciência por uma nação
mais justa", por exemplo.
FHC sublinhou também o que de fato o seu primeiro governo fez para
reduzir a injustiça social, embora seu
balanço tenha sido algo otimista.
Mencionou o fim da inflação, feito
que hoje começa a ser injustamente
menosprezado, os projetos de melhoria do ensino, a tentativa de dirigir
os fundos públicos aos mais pobres,
fundos tradicionalmente apropriados pelos que mais têm poder de
pressão, sejam eles as corporações
ou os economicamente mais privilegiados. Tais ações merecem apoio e
aplauso. Mas ainda é pouco num país
campeão em desigualdade, a qual
permaneceu quase intocada nos últimos anos. O crônico drama social
pede mais e novas ações. Mas o presidente não anunciou novidades.
A política central do governo, social
e econômica, será ainda a estabilidade, o que é essencial, mas insuficiente. O discurso de ontem sugere que
não se devem esperar inovações econômicas ou sociais que ajudem a minorar com mais rapidez a injustiça.
O presidente deixou claro que vai
prosseguir no caminho das reformas
econômicas e do Estado, algumas já
tardias, e que fará o ajuste fiscal, cobrando compromisso do Congresso,
o que é imprescindível e inadiável.
Em suma, Fernando Henrique Cardoso reafirmou sua política econômica, lembrando que ela foi abalada
por três graves crises internacionais
- no que tem razão. Mas tal fato é
um sinal de que essa crônica turbulência exige novas formas de encarar
a condução da economia nacional.
A ainda lenta redução das agruras
sociais e a presente e demasiada exposição do país aos percalços do
mercado global sugerem que seria
este o momento de repensar algumas
linhas gerais da administração do
Brasil. O presidente talvez tenha sido
prudente em calar nessa hora de crise, guardando para o futuro próximo
não discursos, mas ações que possam deixar "o Brasil menos impaciente por uma nação mais justa", segundo suas próprias palavras. É o
que o país, ansiosamente, espera.
Próximo Texto | Índice
|