São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2005 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O tsunami nosso de cada dia
MILÚ VILLELA
Examinemos o caso do Brasil, por exemplo. Outro relatório da ONU, também divulgado no mês de janeiro, mostrou que temos 13 bolsões de miséria no país. Cerca de 26 milhões de brasileiros vivem em 600 municípios onde o estado de pobreza é semelhante ao registrado em Uganda, na África (país que ocupa a 147º posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU). É uma tragédia que mereceria mobilização social igual à [ ] que assistimos no caso da Ásia. Empresas, cidadãos comuns, entidades de classe e outros atores sociais deveriam olhar para essa informação e se perguntar: o que podemos fazer para transformar a vida dessas pessoas, o que podemos fazer para atenuar os efeitos dessa tragédia, que certamente afeta a vida do país como um todo? Muitos devem estar pensando que essa é uma questão de Estado e de política pública. E de fato é. Questões como a redistribuição de renda, a injeção de recursos em políticas sociais, a melhora da escolaridade, entre outras, são fundamentais para reverter indicadores vergonhosos como esses apresentados pela ONU. Ocorre, entretanto, que a ação estatal não é suficiente para enfrentar o problema. Como se sabe, o Estado não dispõe de recursos para mudar a realidade de todo este contingente da população sozinho. A sociedade tem, sim, um papel a desempenhar. Esses milhões de brasileiros que amargam na miséria quase que absoluta precisam de solidariedade. A sociedade civil organizada, por meio de sindicatos, de entidades religiosas, independentemente de suas [ ] denominações, de ONGs e de entidades empresariais precisam se unir e buscar mecanismos que permitam levar alento, esperança e perspectivas a essas pessoas que hoje percorrem uma estrada que vai do nada ao nada, num tormento sem fim. Ou seja, precisamos sair do casulo. Uma onda gigantesca está se formando em nosso horizonte. É melhor seguirmos o exemplo deixado por nações e voluntários que se fizeram presentes na tragédia da Ásia. Chegou a hora de respirar fundo e enfrentar de frente o tsunami nosso de cada dia. Vamos torcer para que os participantes do encontro que se realizou no Rio Grande do Sul tragam uma resposta para esse desafio. Milú Villela, 58, empresária, é embaixadora da Boa Vontade da Unesco e presidente do Faça Parte - Instituto Brasil Voluntário. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Rogério Cezar de Cerqueira Leite: O conflito de Angra 3 não serve a ninguém Índice |
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