São Paulo, sexta-feira, 03 de fevereiro de 2006

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COM MEDO DO BC

O mercado de dólar da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) está em sobressalto. Na segunda-feira, os negócios de prazo mais curto realizados na instituição atingiram o maior valor desde agosto de 1997, quando a crise asiática sacudiu o mundo. Foram realizadas nada menos que 410.226 operações, no valor de US$ 20,5 bilhões.
Isso significa que os investidores estão apostando na continuidade da valorização do real, movimento reforçado nesta semana por rumores de que o Banco Central faria mudanças nas regras do mercado futuro para tentar conter a alta da moeda.
O temor perdurava até ontem e também repercutia no mercado à vista. Os bancos têm-se desfeito de dólares em volume recorde.
Desde meados de novembro de 2005, o BC compra dólares nos mercados à vista e a termo. Essas operação custam caro e já não conseguem frear a valorização do real. A dívida pública emitida para pagar a aquisição de reservas -que rendem ao governo em torno de 4,5% ao ano- remunera o credor a 17,25%. Esse é o mesmo diferencial de juros que atrai o investidor externo e força para cima o preço da moeda brasileira.
Se o Banco Central de fato mudar as regras de negócios na BM&F, terá de novo enveredado por uma arriscada heterodoxia. Esta Folha entende que o BC deve enfatizar a saída ortodoxa: acelerar a queda dos juros para reduzir o hiato entre o que os investidores ganham aqui e no exterior.
Da dívida externa nova das empresas do Brasil é exigida taxa 2,6 pontos percentuais acima dos 4,5% cobrados dos EUA. A taxa básica de juros brasileira que igualaria os ganhos em aplicações aqui e no exterior também leva em conta a diferença entre as expectativas para a inflação brasileira e a americana. O resultado é uma Selic "de equilíbrio" em torno de 10% ao ano.
Esse mero exercício especulativo não implica que o BC deva ter como meta uma taxa básica de 10%. Apenas dá idéia numérica do grande espaço para baixar a Selic se o objetivo é conter a valorização cambial.


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