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MARCOS NOBRE
Filosofia
na escola
PODE SER que a obrigatoriedade da filosofia no ensino médio tenha sido aprovada por
força do lobby religioso, como
meio de difusão de uma crença. É
possível também que a lei tenha sido aprovada pela importância que
têm profissionais de filosofia no
debate público, como se devesse
caber à filosofia trazer para a sala
de aula o debate dos temas do
momento.
São maneiras seguras de tornar
deletério o ensino de filosofia. Não
há nenhum sentido positivo em fazer da filosofia aula de religião,
"educação moral e cívica" ou conversa sobre o noticiário do dia.
O que também não quer dizer
que vá adiantar de alguma coisa entupir a cabeça dos alunos com a
história do pensamento filosófico,
da Grécia Antiga aos dias atuais.
Vai produzir, quando muito, bocejos ostensivos.
Pode ser que, em boas escolas,
seja frutífero introduzir uma matéria árdua como a lógica, por exemplo, uma disciplina que aguça o raciocínio e a argumentação. Mas,
mesmo assim, o mais importante
será provavelmente o reflexo do
ensino de lógica sobre o domínio
da escrita e sobre o aprendizado de
línguas e da matemática.
E um dos possíveis caminhos para introduzir a filosofia de maneira
fecunda no ensino médio é justamente o de fazer com que se torne
aliada de outras disciplinas do currículo escolar. Há uma infinidade
de alianças interessantes possíveis
com biologia, história, língua e
literatura, física e química, matemática.
A filosofia poderia tornar-se um
momento de reflexão sobre o próprio aprendizado dessas matérias,
um exercício crítico sobre o que se
costuma ensinar como óbvio e natural. Os diálogos entre professores responsáveis por essas disciplinas seriam certamente proveitosos
para todos os envolvidos.
A dificuldade para fazer isso
acontecer não está apenas nas condições precárias de trabalho em
grande parte da rede pública e privada. Está também na ausência de
profissionais formados segundo
esses parâmetros. Para não falar na
total ausência de material didático
produzido com esse espírito.
O período de adaptação até a implantação definitiva está correndo.
E as iniciativas continuam tímidas
e isoladas. Faltam projetos federais
e estaduais realmente inovadores,
que proponham cronogramas realistas para formar uma nova geração de professores e que inventem
novas maneiras de ensinar filosofia. Como está, a obrigatoriedade
será, na melhor das hipóteses,
inócua.
Faço uma pausa nas contribuições
para este espaço. Volto depois do
Carnaval. Até lá.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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