São Paulo, terça-feira, 03 de fevereiro de 2009

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MARCOS NOBRE

Filosofia na escola

PODE SER que a obrigatoriedade da filosofia no ensino médio tenha sido aprovada por força do lobby religioso, como meio de difusão de uma crença. É possível também que a lei tenha sido aprovada pela importância que têm profissionais de filosofia no debate público, como se devesse caber à filosofia trazer para a sala de aula o debate dos temas do momento.
São maneiras seguras de tornar deletério o ensino de filosofia. Não há nenhum sentido positivo em fazer da filosofia aula de religião, "educação moral e cívica" ou conversa sobre o noticiário do dia. O que também não quer dizer que vá adiantar de alguma coisa entupir a cabeça dos alunos com a história do pensamento filosófico, da Grécia Antiga aos dias atuais.
Vai produzir, quando muito, bocejos ostensivos.
Pode ser que, em boas escolas, seja frutífero introduzir uma matéria árdua como a lógica, por exemplo, uma disciplina que aguça o raciocínio e a argumentação. Mas, mesmo assim, o mais importante será provavelmente o reflexo do ensino de lógica sobre o domínio da escrita e sobre o aprendizado de línguas e da matemática.
E um dos possíveis caminhos para introduzir a filosofia de maneira fecunda no ensino médio é justamente o de fazer com que se torne aliada de outras disciplinas do currículo escolar. Há uma infinidade de alianças interessantes possíveis com biologia, história, língua e literatura, física e química, matemática.
A filosofia poderia tornar-se um momento de reflexão sobre o próprio aprendizado dessas matérias, um exercício crítico sobre o que se costuma ensinar como óbvio e natural. Os diálogos entre professores responsáveis por essas disciplinas seriam certamente proveitosos para todos os envolvidos.
A dificuldade para fazer isso acontecer não está apenas nas condições precárias de trabalho em grande parte da rede pública e privada. Está também na ausência de profissionais formados segundo esses parâmetros. Para não falar na total ausência de material didático produzido com esse espírito.
O período de adaptação até a implantação definitiva está correndo. E as iniciativas continuam tímidas e isoladas. Faltam projetos federais e estaduais realmente inovadores, que proponham cronogramas realistas para formar uma nova geração de professores e que inventem novas maneiras de ensinar filosofia. Como está, a obrigatoriedade será, na melhor das hipóteses, inócua.

 

Faço uma pausa nas contribuições para este espaço. Volto depois do Carnaval. Até lá.

nobre.a2@uol.com.br

MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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