São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2005

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CLÓVIS ROSSI

A segunda vitória de Bush

ROMA - Muita gente pode chorar e ranger os dentes, mas o fato é que vai avançando devagarinho a propagação da democracia que o presidente George Walker Bush anunciou como um dos objetivos da invasão do Iraque. Paradoxalmente, não avança justamente nos dois países em que há tropas norte-americanas (Iraque e Afeganistão).
Fatos: o movimento pela saída das tropas sírias do Líbano ganhou um impulso que dificilmente terá volta; a Arábia Saudita anuncia o voto para a mulher; o presidente do Egito, Hosni Mubarak, promete que a próxima eleição será pluralista.
Como diz análise de ontem do "New York Times": "Não é nem mesmo uma primavera ainda, mas uma ordem política há muito tempo congelada parece estar se esfacelando em todo o Oriente Médio".
É óbvio que, sem a determinação norte-americana de depor Saddam Hussein e ameaçar fazer o mesmo com outros ditadores da região, muito dificilmente a "ordem congelada" teria começado o seu degelo.
É ruim que esses fatos, positivos, tenham vindo na esteira de uma ação ilegal como foi a ocupação do Iraque. Mas, já que vieram, é torcer para que os movimentos rumo à democracia se consolidem -e que não apenas se substituam os ditadores de plantão por governantes títeres dos Estados Unidos ou por ditadores que estavam na oposição e, só por isso, se faziam passar por democratas.
Volto ao paradoxo inicialmente citado: no Afeganistão, uma eleição que não chegou a atender padrões aceitáveis conferiu poder aos "chefes de guerra", que são talibãs sem fé no Islã, nada democráticos.
No Iraque, o caos gerado pela invasão norte-americana é tudo menos avanço rumo à democracia.
Por fim, um risco: na América Latina e na África, em nove de cada dez vezes que falaram em defender a democracia, os Estados Unidos puseram um ditador no governo (ou aceitaram-no gostosamente).
Que o princípio de sucesso no Oriente Médio não lhes suba a cabeça e não a voltem para o sul.


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