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CLÓVIS ROSSI
A segunda vitória de Bush
ROMA - Muita gente pode chorar e ranger os dentes, mas o fato é que vai
avançando devagarinho a propagação da democracia que o presidente
George Walker Bush anunciou como
um dos objetivos da invasão do Iraque. Paradoxalmente, não avança
justamente nos dois países em que há
tropas norte-americanas (Iraque e
Afeganistão).
Fatos: o movimento pela saída das
tropas sírias do Líbano ganhou um
impulso que dificilmente terá volta; a
Arábia Saudita anuncia o voto para
a mulher; o presidente do Egito, Hosni Mubarak, promete que a próxima
eleição será pluralista.
Como diz análise de ontem do
"New York Times": "Não é nem mesmo uma primavera ainda, mas uma
ordem política há muito tempo congelada parece estar se esfacelando em
todo o Oriente Médio".
É óbvio que, sem a determinação
norte-americana de depor Saddam
Hussein e ameaçar fazer o mesmo
com outros ditadores da região, muito dificilmente a "ordem congelada"
teria começado o seu degelo.
É ruim que esses fatos, positivos, tenham vindo na esteira de uma ação
ilegal como foi a ocupação do Iraque.
Mas, já que vieram, é torcer para que
os movimentos rumo à democracia
se consolidem -e que não apenas se
substituam os ditadores de plantão
por governantes títeres dos Estados
Unidos ou por ditadores que estavam
na oposição e, só por isso, se faziam
passar por democratas.
Volto ao paradoxo inicialmente citado: no Afeganistão, uma eleição
que não chegou a atender padrões
aceitáveis conferiu poder aos "chefes
de guerra", que são talibãs sem fé no
Islã, nada democráticos.
No Iraque, o caos gerado pela invasão norte-americana é tudo menos
avanço rumo à democracia.
Por fim, um risco: na América Latina e na África, em nove de cada dez
vezes que falaram em defender a democracia, os Estados Unidos puseram um ditador no governo (ou aceitaram-no gostosamente).
Que o princípio de sucesso no
Oriente Médio não lhes suba a cabeça e não a voltem para o sul.
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