São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

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NELSON MOTTA

O jogo da vida

RIO DE JANEIRO - No Brasil, joga-se em tudo, loterias, bingos, bichos, cavalos, raspadinhas, a maioria explorada pelo Estado, mas ninguém entende por que os cassinos -que geram mais empregos e impostos do que essas outras modalidades de tentar ganhar dinheiro sem trabalhar- continuam proibidos. Por razões morais não pode ser.
Dá até medo tocar nesse assunto. No Brasil-bandido de hoje, ser a favor da reabertura dos cassinos logo faz de você um suspeito de estar no mensalão da jogatina. E quero distância dessa gente.
O pessoal que explora cassinos, em qualquer lugar do mundo, pela própria natureza de sua atividade -tirar dinheiro dos otários-, está sempre na fronteira da marginalidade e do crime organizado, mas pelo menos confinados nos cassinos são rigidamente controlados pelas forças da lei e da ordem. Pagam impostos e assinam carteiras.
Há 50 anos, os cassinos, que empregavam milhares de pessoas e eram os principais palcos da música brasileira nos anos 40, foram fechados com uma canetada do presidente Dutra, a pedido de sua catolicíssima esposa, dona Santinha, em nome de Deus.
Hoje há milhares de cassinos clandestinos no Brasil, que não pagam impostos, não assinam carteiras e tiram dinheiro justamente dos que mais precisam -os pobres e remediados. Ricos que têm dinheiro para perder no jogo não se metem em cassinos clandestinos, onde são grandes as chances de serem roubados.
Tem gente que perde as calças, a dignidade e a vida no jogo, mas esses não precisam de cassinos legalizados, são patológicos -a tragédia dos alcoólatras não justifica a proibição da bebida. A existência de cassinos não obriga ninguém a jogar, e os argumentos econômicos e sociais são muito mais sólidos do que as preocupações morais no país da jogatina. Já não somos mais o Brasil de dona Santinha.


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