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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Outra devassa, por favor!
SÃO PAULO - A decisão do Conar
(Conselho de Autorregulamentação Publicitária) de proibir a propaganda da cerveja Devassa Bem Loura, com a socialite Paris Hilton, é algo que "não desce redondo".
É difícil reagir sem ironia às alegações da Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres, órgão ligado à Presidência que denunciou a
peça publicitária por considerá-la
"sexista" e "desrespeitosa". A responsável pela acusação diz que é
preciso cuidar "para que a mulher
não seja tratada como um produto".
Estamos de acordo, mas de que
"catacumba 68" saíram essas senhoras? Não há como evitar a comparação: Paris Hilton, a "devassa", é
loira, americana e milionária. Os
arautos da dignidade reclamariam
providências se, no lugar dela, estivesse a nossa Juliana Paes, "a boa"?
As coisas se passam como se, com
a censura, pudéssemos traçar uma
linha imaginária entre a nossa sensualidade brejeira e a pornografia
dos outros, entre o louvor à "preferência nacional" e a mera apelação
vulgar, entre a "virtude" e o "vício".
Um site de publicidade americano debochou de nosso falso pudor,
perguntando se "Paris Hilton seria
sexy demais para o Brasil". Só falta
agora Marco Aurélio Garcia vir pregar contra o "esterco publicitário"
em defesa do adubo nacional.
Paris Hilton não é mesmo uma figura que inspire muita admiração.
Mas que diferença existe entre ela,
sempre tão hostilizada, e os socialites, descolados, artistas e que tais
que desfilam com marcas de cerveja
no peito em troca de privilégios e
luzes nos espaços vips do Carnaval?
Ao identificar, sem mediações,
mulher e cerveja como objetos de
desejo, a peça da "devassa" arromba
a porta já aberta de um espetáculo
que se fingia ver pela fechadura. A
propaganda não é mais sexista nem
mais agressiva com as mulheres do
que a grande maioria das que vendem carro, por exemplo. Mas testa,
no seu didatismo digno de um roteiro pornô, os limites da permissividade a serviço da mercadoria. A
censura é sempre a pior maneira de
proteger a sociedade de si mesma.
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