São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2011

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CLÓVIS ROSSI

Irã, Brasil, tapas e beijos

GENEBRA - O governo brasileiro vai, sim, votar a favor da criação de um relator especial para investigar a situação dos direitos humanos no Irã, no âmbito do Conselho de Direitos Humanos.
A decisão não será anunciada até a iminência da sessão de votação, que pode ocorrer até dia 25.
Significa que o governo Dilma Rousseff vai dar um tapa no congênere iraniano, em contraponto aos beijos que seu antecessor e padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, trocou com Ahmadinejad?
Sim e não. Sim porque em nove das dez vezes em que a ONU votou resoluções a respeito do Irã, o Brasil se absteve, tanto na antiga Comissão de Direitos Humanos, rebatizada para Conselho, como na Assembleia Geral.
Só uma vez, no início do governo Lula, o voto foi a favor da condenação do Irã. Mas, no ano passado, no Conselho de Segurança, que é organismo que de fato decide na ONU, o Brasil votou contra sanções ao Irã (pelo programa nuclear).
A resposta "não" é porque desta vez a votação não trata de sanções e tampouco diz respeito ao programa nuclear iraniano. Agora, o voto será para um passo anterior a eventuais condenações. O que se fará, se a resolução passar -o que não é nada fácil-, é criar uma espécie de investigador especial que dirá se o Irã viola ou não os direitos humanos e, em caso positivo, em que medida.
Se o governo iraniano nada tem a esconder, como diz, ele próprio deveria apoiar a resolução, mesmo não sendo no momento membro do Conselho.
Mas regimes autoritários, ainda mais aqueles que acreditam ser a encarnação de Deus na Terra, não têm muita paciência com nuances. O chanceler iraniano, Ali Akbar Salehi, acaba de dizer ao "Estadão" que ficará "decepcionado" se houver mudança na posição brasileira em relação ao Irã.
A decepção está a caminho. O que virá depois fica em aberto.


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