|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sem limites no Iraque
APESAR DAS tentativas internacionais de disciplinar
combates, cristalizadas
nas Convenções de Genebra,
conflitos tornam-se cada vez
mais sangrentos, em termos da
proporção de civis mortos.
No início do século 20, civis
constituíam entre 10% e 15% das
vítimas de uma
guerra. Na 2ª
Guerra Mundial,
superaram os
50% e, no final do
século, já perfaziam mais de
75% dos mortos.
O caso iraquiano desafia até
pessimistas. A
mais conservadora das estimativas, da ONG Iraq Body Count
(IBC), coloca o número de civis
mortos em cerca de 63 mil. Os
óbitos da coalizão liderada pelos
EUA chegam a 3.512. Por essas
cifras, a proporção de civis mortos seria de mais de 90%.
Essa conta, entretanto, apresenta um problema. Ela não leva
em consideração as baixas de militares iraquianos, difíceis de
precisar, pois ninguém se preocupa em diferenciá-los dos civis.
O que já era preocupante se
torna ainda pior quando se leva
em conta não a estimativa do
IBC, baseada apenas em casos
reportados, mas o estudo populacional da revista médica "The
Lancet", que estabeleceu, para o
período que vai de abril de 2003
até junho de
2006, o total de
654.965 mortes
de iraquianos
provocadas pela
guerra, ou 2,5%
da população.
Cresce também a impressão
de que as forças
xiitas e sunitas
em guerra civil
perderam todo
vestígio de civilização. Já colocam até mesmo crianças em carros-bomba para passar mais facilmente nos bloqueios -e as explodem.
É paradoxal a situação em que
o progresso técnico preserva a
vida dos soldados americanos,
mas a irresponsabilidade política de invadir o Iraque, aliada ao
redespertar do conflito sectário,
acaba com todos os limites para a
carnificina de civis.
Texto Anterior: Editoriais: Depois do motim Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Os apagões de Lula Índice
|