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ELIANE CANTANHÊDE
Incompetência e leniência
BRASÍLIA - Com a contra-ofensiva da Aeronáutica, Lula recupera o
bom senso e conclui o óbvio: não dá
para atropelar a democracia, a hierarquia militar e as leis para ceder a
um punhado de controladores militares que podem parar o país a qualquer momento.
Na reunião do Alto Comando de
sábado, como anunciou a Folha, o
comandante Juniti Saito e os demais brigadeiros de quatro estrelas
decidiram driblar a decisão do governo de não punir os amotinados.
Se o governo não faz, o Ministério
Público Militar fará.
Ontem, já havia três frentes para
abrir IPMs contra os sargentos
controladores: em Brasília, Curitiba e Manaus, onde a procuradora
Maria de Nazaré Guimarães pediu
ao Comando da Aeronáutica relatos sobre o "motim, conspiração,
desrespeito a superiores e desacato", para tomar providências. O Código Penal Militar, artigo 149, prevê
prisão nesses casos. Os líderes serão retirados dos consoles para trabalhos burocráticos, enquanto a
punição não vem.
O Alto Comando também alertou
para o efeito cascata da crise dos
controladores militares sobre os civis e sobre os milhares de outros
profissionais (engenheiros, técnicos de rádio...) de controle aéreo,
além do risco de contaminação das
outras Forças. Exército e Marinha
entraram no campo de batalha.
Quebrar a hierarquia e a disciplina não é uma questão da Aeronáutica, é mexer na base das Forças Armadas. Se sargentos fazem tudo o
que fizeram e ganham todas, qualquer um pode fazer o mesmo. Desde os policiais federais até os cabos
do Exército, passando pelos tarefeiros da Marinha.
O governo foi incompetente e leniente, perdeu para os controladores, para os comandos militares e
para os usuários. Mais uma vez, Lula empurrou com a barriga contando com a sorte, como se crises se resolvessem sozinhas. Desta vez, não
deu certo. O prejuízo é enorme.
elianec@uol.com.br
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