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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
Eixo de uma estratégia
O BRASIL está no limiar de
tornar-se país de primeira
ordem, não apenas por seu
impulso produtivo e sua vitalidade
cultural mas também e sobretudo
por encarnar rumo, de organização
e de civilização, que exercerá fascínio. Dita após um quarto de século
de estagnação econômica e de desilusão política, essa afirmação pode
soar absurda. Para efetivar-se, porém, depende apenas da adoção de
estratégia cujos instrumentos já
estão a nosso alcance.
O eixo é conjunto de iniciativas
destinado a aumentar rapidamente a produtividade do trabalho no
Brasil. E a evitar que fiquemos imprensados entre países ricos, de alta produtividade, e países em desenvolvimento, de trabalho mais
barato do que o nosso. A China e a
Índia talvez se possam dar o luxo
de tocar economias avançadas
dentro de economias atrasadas.
Nós, que temos muito menos gente
e que não nos conformamos com a
desigualdade que compromete
nosso sonho nacional, precisamos
seguir outro caminho: o de elevar
todos os brasileiros. O primeiro requisito é a prontidão para nos despir de qualquer preconceito ideológico a respeito da maneira de botar o Brasil para aprender e para
produzir.
O foco na melhora da qualidade
do ensino básico, graças ao monitoramento constante, à ajuda federal a Estados e municípios em troca
de compromissos e resultados e à
intervenção corretiva quando necessária. A multiplicação em todos
os níveis do sistema educacional,
inclusive no ensino universitário,
de modelos de excelência e de
oportunidades especiais para os
alunos mais talentosos. A revisão
de regime tributário e previdenciário que obriga a maioria de nossos
trabalhadores a trabalhar na ilegalidade. O uso dos bancos e das
agências de fomento público para
abrir, em grande escala, acesso ao
crédito, aos meios tecnológicos e às
melhores práticas produtivas em
favor de multidão de empreendimentos emergentes. O desenvolvimento de tecnologias não controladas pelas multinacionais e a negociação com essas empresas para
que disponibilizem, como condição de sua presença entre nós, as
tecnologias mais requintadas que
manejam. A mobilização de nossos
incomparáveis recursos de energia
hídrica e biológica para dar margem a nosso potencial produtivo e
para tirar a Amazônia do vazio econômico em que ela continua. E o
soerguimento de nossa estrutura
de transportes, transformada em
reforço de união sul-americana.
Nada disso é utópico. Tudo isso
junto daria base ao vigor, reprimido e inconformado, da nação.
www.robertounger.net
ROBERTO MANGABEIRA UNGER escreve às
terças-feiras nesta coluna.
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