São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2007

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ROBERTO MANGABEIRA UNGER

Eixo de uma estratégia

O BRASIL está no limiar de tornar-se país de primeira ordem, não apenas por seu impulso produtivo e sua vitalidade cultural mas também e sobretudo por encarnar rumo, de organização e de civilização, que exercerá fascínio. Dita após um quarto de século de estagnação econômica e de desilusão política, essa afirmação pode soar absurda. Para efetivar-se, porém, depende apenas da adoção de estratégia cujos instrumentos já estão a nosso alcance.
O eixo é conjunto de iniciativas destinado a aumentar rapidamente a produtividade do trabalho no Brasil. E a evitar que fiquemos imprensados entre países ricos, de alta produtividade, e países em desenvolvimento, de trabalho mais barato do que o nosso. A China e a Índia talvez se possam dar o luxo de tocar economias avançadas dentro de economias atrasadas.
Nós, que temos muito menos gente e que não nos conformamos com a desigualdade que compromete nosso sonho nacional, precisamos seguir outro caminho: o de elevar todos os brasileiros. O primeiro requisito é a prontidão para nos despir de qualquer preconceito ideológico a respeito da maneira de botar o Brasil para aprender e para produzir.
O foco na melhora da qualidade do ensino básico, graças ao monitoramento constante, à ajuda federal a Estados e municípios em troca de compromissos e resultados e à intervenção corretiva quando necessária. A multiplicação em todos os níveis do sistema educacional, inclusive no ensino universitário, de modelos de excelência e de oportunidades especiais para os alunos mais talentosos. A revisão de regime tributário e previdenciário que obriga a maioria de nossos trabalhadores a trabalhar na ilegalidade. O uso dos bancos e das agências de fomento público para abrir, em grande escala, acesso ao crédito, aos meios tecnológicos e às melhores práticas produtivas em favor de multidão de empreendimentos emergentes. O desenvolvimento de tecnologias não controladas pelas multinacionais e a negociação com essas empresas para que disponibilizem, como condição de sua presença entre nós, as tecnologias mais requintadas que manejam. A mobilização de nossos incomparáveis recursos de energia hídrica e biológica para dar margem a nosso potencial produtivo e para tirar a Amazônia do vazio econômico em que ela continua. E o soerguimento de nossa estrutura de transportes, transformada em reforço de união sul-americana.
Nada disso é utópico. Tudo isso junto daria base ao vigor, reprimido e inconformado, da nação.


www.robertounger.net

ROBERTO MANGABEIRA UNGER
escreve às terças-feiras nesta coluna.


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