|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Castelo de areia
Cronicamente suspeita, teia de relações entre empreiteiras e políticos demanda controles mais
eficazes e transparentes
O NOME da última operação da Polícia Federal
-Castelo de Areia-
talvez involuntariamente sugira à opinião pública o
que se pode esperar de seu futuro assim que recuar a vaga de escândalo mobilizada nestes dias.
Líderes oposicionistas protestam diante do que consideraram
uma evidente manipulação partidária no vazamento das informações relativas ao caso.
A suspeita de que senadores do
DEM e do PSDB teriam se beneficiado de doações ilegais da empreiteira Camargo Corrêa foi divulgada sem comprovação. Não
teve outro efeito a não ser a
pronta exibição, pelos acusados,
de recibos que atestariam a regularidade da contribuição.
A oposição estranha, além disso, o fato de que o PT terminou
excluído da lista original dos partidos supostamente contemplados com donativos ilegais.
Seria o caso de dizer que, em se
tratando de relações com empreiteiras, nenhum partido é
menos suspeito que os outros -e
que doações ilegais, o chamado
caixa dois, há muito constituem
prática generalizada. Por essa
mesma razão, não há como esperar de situacionistas ou de oposicionistas maior empenho em revolver a fundo essa questão.
Da Castelo de Areia, nenhuma
instituição sai fortalecida. Prisões espalhafatosas e injustificadas, mais uma vez, evidenciam
de que modo setores da Polícia
Federal, do Ministério Público e
até do Judiciário se pautam pela
precipitação e pela truculência.
O governo federal e a Petrobras se veem diante da acusação
de superfaturamento em obras
da Refinaria Abreu e Lima, executadas por um consórcio de que
participa a Camargo Corrêa.
O Tribunal de Contas da
União, que aponta a suposta irregularidade -e muitas outras-, é
por sua vez composto em sua
maioria de ministros indicados
por políticos da oposição. Viu-se
igualmente cercado das suspeitas levantadas pela PF. Por fim, o
controle público das doações
partidárias e dos gastos de campanha dá renovadas mostras de
precariedade.
Um ambiente de suspeita generalizada e um histórico de escândalos impunes marcam o relacionamento entre governantes
e empreiteiras no país. Em meio
ao alarido destes últimos dias,
não há sinal de que se tomem
providências palpáveis no sentido de modificar essa situação.
Regulamentar a prática dos
grupos de pressão no Congresso
e no Executivo, com atribuições
e normas precisas para a atuação
dos lobistas, é iniciativa sempre
adiada, pela força dos interesses
que se conhecem. Do ponto de
vista técnico, não haveria maiores dificuldades em propiciar aos
cidadãos o acompanhamento de
doações e gastos de campanha
pela internet, em tempo real.
Na falta de normas ágeis e de
maior transparência nessa área,
não apenas a corrupção se torna
perene, como também os riscos
de arbítrio e injustiça por parte
dos que pretendem combatê-la.
Próximo Texto: Editoriais: Outra lei draconiana
Índice
|