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FERNANDO GABEIRA
Aquecimento e humanismo
RIO DE JANEIRO - Magro, arrumadinho, aos 85 anos, o físico americano de origem inglesa Freeman
Dyson lembra um pouco Bertrand
Russel. Não era tão polêmico até
que começou a criticar a tese do
aquecimento global. Algumas pessoas chegaram a achar que Dyson
começou a caducar. Mas um de seus
amigos, especializado em mentes, o
psiquiatra Oliver Sachs, afirma que
a cabeça de Dyson continua aberta
e flexível.
O pequeno livro de Dyson, "O Sol,
o Genoma e a Internet", já foi rapidamente comentado por mim nesta
página. Ele afirma que a energia solar, a internet e a engenharia genética são tendências que devem dominar o século 21. Popper afirmava
que a historia humana é imprevisível, porque não se pode prever o futuro do conhecimento humano.
Mas tendências são previsíveis, ou
pelo menos admissíveis.
As críticas de Dyson às teses do
aquecimento global, que considera
exageradas, não significam que ele
seja contra a ecologia, pois é um dos
grandes críticos do carvão e entusiasta da energia solar. Elas são discutidas porque ele é um cientista
respeitado, com incursões no nuclear, nas questões espaciais e também com algumas pesquisas dedicadas à paz.
Quando viu o filme de Al Gore,
com a mulher, ela ficou brava com
ele: "Você me disse que nada aconteceria com os ursos polares". Ele
respondeu: "Não se preocupe, os
ursos polares estarão bem".
Dyson acha que é preciso se concentrar na luta contra a pobreza e as
doenças. Ele é um humanista. Impossível reproduzir a discussão
científica, mas a crise econômica
mundial permitiu, agora mais do
que nunca, uma aproximação da
ecologia com o humanismo. Por
que não unir as duas pontas? Sobretudo numa mente flexível e aberta
como a de Dyson. Pelo menos em
casa, ele terá de responder pelo futuro dos ursos polares.
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