São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

A fome da greve

RIO DE JANEIRO - A greve de fome de Garotinho é um ato desesperado que incomoda a classe política como um todo, principalmente o PT e, em escala menor, o PSDB, os dois partidos que se julgam com direito ao rodízio no poder federal.
A insistência de Garotinho em manter a sua pré-candidatura pelo PMDB incomoda o próprio PMDB, interessado em apoiar o futuro vencedor das próximas eleições, seja ele do PT ou do PSDB. Até o último momento, o partido prefere esperar a arrumação dos partidos menores no tabuleiro, as alianças mais consistentes para, enfim, optar por Lula ou pelo candidato tucano, seja ele qual for.
Garotinho atrapalha a arrumação eleitoral e contra ele é natural que se voltem as baterias dos dois partidos que têm escudeiros entusiasmados na mídia e em grande parte do empresariado.
Não se discutem as acusações que cercam a campanha de Garotinho. Parecem ilegais e até imorais, mas dentro do quadro geral de todas as campanhas eleitorais, inclusive dos partidos que acreditam monopolizar a ética, com suas vestais de fancaria.
Cito um trecho do artigo de Janio de Freitas publicado ontem: "Nenhuma denúncia responsabiliza Garotinho, até agora, pessoalmente. Como se deu a montagem das doações suspeitas, ou dos contratos que levaram às doações, é uma zona ainda obscura na vastidão do noticiário (...) Tudo, porém, está por ser investigado".
E, em matéria de investigação, nada mais suspeito do que o jornalismo investigativo, que acusa e depois é obrigado a engolir os fatos que desmentem as "provas". Meses atrás, um jornal deu oito páginas sobre um caminhão que levava material de campanha em Campos. O mesmo jornal deu apenas seis páginas para o atentado ao WTC.
Bem, qualquer que seja a motivação de Garotinho, a greve de fome é um exagero. Não será assim que ele se livrará da campanha maciça que PT e PSDB movem contra ele, usando seus representantes na mídia.


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