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CARLOS HEITOR CONY
A fome da greve
RIO DE JANEIRO - A greve de fome de
Garotinho é um ato desesperado que
incomoda a classe política como um
todo, principalmente o PT e, em escala menor, o PSDB, os dois partidos
que se julgam com direito ao rodízio
no poder federal.
A insistência de Garotinho em
manter a sua pré-candidatura pelo
PMDB incomoda o próprio PMDB,
interessado em apoiar o futuro vencedor das próximas eleições, seja ele
do PT ou do PSDB. Até o último momento, o partido prefere esperar a arrumação dos partidos menores no tabuleiro, as alianças mais consistentes
para, enfim, optar por Lula ou pelo
candidato tucano, seja ele qual for.
Garotinho atrapalha a arrumação
eleitoral e contra ele é natural que se
voltem as baterias dos dois partidos
que têm escudeiros entusiasmados
na mídia e em grande parte do empresariado.
Não se discutem as acusações que
cercam a campanha de Garotinho.
Parecem ilegais e até imorais, mas
dentro do quadro geral de todas as
campanhas eleitorais, inclusive dos
partidos que acreditam monopolizar
a ética, com suas vestais de fancaria.
Cito um trecho do artigo de Janio
de Freitas publicado ontem: "Nenhuma denúncia responsabiliza Garotinho, até agora, pessoalmente. Como
se deu a montagem das doações suspeitas, ou dos contratos que levaram
às doações, é uma zona ainda obscura na vastidão do noticiário (...) Tudo, porém, está por ser investigado".
E, em matéria de investigação, nada mais suspeito do que o jornalismo
investigativo, que acusa e depois é
obrigado a engolir os fatos que desmentem as "provas". Meses atrás, um
jornal deu oito páginas sobre um caminhão que levava material de campanha em Campos. O mesmo jornal
deu apenas seis páginas para o atentado ao WTC.
Bem, qualquer que seja a motivação de Garotinho, a greve de fome é
um exagero. Não será assim que ele
se livrará da campanha maciça que
PT e PSDB movem contra ele, usando
seus representantes na mídia.
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