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Subsídio condenado
Apesar de vencidos na OMC, EUA mantêm sua política de auxílio que distorce comércio global de produtos agrícolas
O ÓRGÃO de apelações da
OMC (Organização
Mundial do Comércio)
confirmou ontem ganho de causa para o Brasil em
disputa acerca dos subsídios pagos aos produtores de algodão
norte-americanos, definida em
primeira instância em 2005.
Para os juízes da OMC, os
"subsídios aos produtores de algodão norte-americanos representam uma significativa redução de preço, que constitui um
sério prejuízo ao Brasil". A vitória no processo, aberto em 2003,
possibilita que o país solicite a
imposição de sanções para compensar os danos econômicos
acarretados pelos subsídios norte-americanos.
Segundo o Itamaraty, os Estados Unidos deram auxílio da ordem de US$ 12,5 bilhões aos produtores de algodão entre 1999 e
2003, o que permitiu ao país se
manter como segundo maior
produtor mundial (atrás apenas
da China). Infelizmente, essa
prática desleal de comércio dá
toda mostra de que vai persistir.
O veto do presidente George
W. Bush à nova Lei Agrícola foi
derrubado pelo Congresso. Com
isso, foram reservados subsídios
de US$ 43 bilhões para a garantia
de preços mínimos de vários
grãos. A notícia coincide com o
momento em que os preços agrícolas atingem recordes sucessivos e a renda dos produtores
apresenta alta expressiva.
Os EUA, portanto, perderam
uma excelente oportunidade para reduzir seu protecionismo
agrícola e, desse modo, facilitar
as negociações da Rodada Doha
na OMC, paralisadas em grande
medida por conta da resistência
dos países ricos em aceitar uma
redução dos subsídios pagos aos
seus produtores.
Entre os elementos conjunturais propulsores da crise dos alimentos estão a alta de insumos
(energia, fertilizantes) e os problemas climáticos. Mas a falta de
competitividade dos produtores
nos países pobres e em desenvolvimento, provocada pelos subsídios dos ricos, é a causa estrutural mais relevante para o estrangulamento da oferta de comida
no mundo.
A reunião de chefes de Estado
e de governo organizada pela
FAO (Organização das Nações
Unidas para a Agricultura e Alimentação) em Roma, da qual
participa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é mais uma ocasião oportuna para retomar tratativas entre as diversas nações.
A mensagem de países como o
Brasil deve ser enfática: negociar
a redução progressiva dos subsídios aos produtores agrícolas
nos países ricos, a fim de ampliar
a produção de alimentos nos países pobres, é crucial não apenas
para destravar Doha. Somente
esse passo pode encaminhar a
crise alimentar, no médio prazo,
para alguma solução.
O ideal seria garantir abertura
plena dos mercados dos países
ricos, permitindo uma ampliação das exportações de alimentos dos países pobres e o aumento de suas fontes de riqueza. Apenas a redução dos subsídios, contudo, já seria um enorme avanço.
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