|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Diagnósticos sem remédios
ROMA - Devo ter mais quilometragem em reuniões de cúpula (do
lado de fora, claro) do que qualquer
dos presidentes e primeiros-ministros hoje nos respectivos cargos.
Felizmente, para a democracia, eles
passam, enquanto eu vou ficando
na profissão, feliz ou infelizmente,
ao gosto do freguês.
Até gosto delas. São uma oportunidade de ouro para estudar os mais
diversos temas e tentar aprender
alguma coisa. Exemplo, válido para
a cúpula sobre Segurança Alimentar/Mudança Climática/Bioenergia, que se inaugura hoje em Roma:
venho aprendendo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva coisas
que jamais imaginava saber sobre o
etanol.
Não é um tema que nos comovesse (nem existia) quando nos conhecemos séculos atrás, no Sindicato
dos Metalúrgicos de São Bernardo.
Mas ele de fato se tornou um especialista em etanol, e dispara dados, sem consultar nenhuma fichinha, como se tivesse nascido em
berço de cana-de-açúcar.
O próprio Lula admite que, logo,
logo, seu pares vão tratá-lo de "o
chato do etanol".
Até aí, tudo bem. O problema começa quando o "chato" não consegue convocar seus companheiros
governantes para decisões. O documento final da cúpula de Roma, se
sair de acordo com o esboço disponível, não diz nada que justifique
todo o esforço feito para estudar os
temas da conferência.
Afirma, por exemplo, que "há
uma urgente necessidade de ajudar
países em desenvolvimento e em
transição a expandir a agricultura e
a produção de alimentos e a aumentar o investimento na agricultura,
no agronegócio e no desenvolvimento rural, tanto de fontes públicas como privadas".
Para afirmar o óbvio, não é preciso chamar ninguém a Roma. Pior:
essa tem sido a tônica das cúpulas,
seja qual for o assunto. Boas de
diagnósticos (em geral óbvios), mas
insuficientes em remédios.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Milícias da tortura
Próximo Texto: Albuquerque - Eliane Cantanhêde: Em busca de um "cowboy" Índice
|