São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Diagnósticos sem remédios

ROMA - Devo ter mais quilometragem em reuniões de cúpula (do lado de fora, claro) do que qualquer dos presidentes e primeiros-ministros hoje nos respectivos cargos. Felizmente, para a democracia, eles passam, enquanto eu vou ficando na profissão, feliz ou infelizmente, ao gosto do freguês.
Até gosto delas. São uma oportunidade de ouro para estudar os mais diversos temas e tentar aprender alguma coisa. Exemplo, válido para a cúpula sobre Segurança Alimentar/Mudança Climática/Bioenergia, que se inaugura hoje em Roma: venho aprendendo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva coisas que jamais imaginava saber sobre o etanol.
Não é um tema que nos comovesse (nem existia) quando nos conhecemos séculos atrás, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Mas ele de fato se tornou um especialista em etanol, e dispara dados, sem consultar nenhuma fichinha, como se tivesse nascido em berço de cana-de-açúcar.
O próprio Lula admite que, logo, logo, seu pares vão tratá-lo de "o chato do etanol".
Até aí, tudo bem. O problema começa quando o "chato" não consegue convocar seus companheiros governantes para decisões. O documento final da cúpula de Roma, se sair de acordo com o esboço disponível, não diz nada que justifique todo o esforço feito para estudar os temas da conferência.
Afirma, por exemplo, que "há uma urgente necessidade de ajudar países em desenvolvimento e em transição a expandir a agricultura e a produção de alimentos e a aumentar o investimento na agricultura, no agronegócio e no desenvolvimento rural, tanto de fontes públicas como privadas".
Para afirmar o óbvio, não é preciso chamar ninguém a Roma. Pior: essa tem sido a tônica das cúpulas, seja qual for o assunto. Boas de diagnósticos (em geral óbvios), mas insuficientes em remédios.


crossi@uol.com.br


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