São Paulo, Quinta-feira, 03 de Junho de 1999
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O AUGE DA DESCRENÇA

O declínio da popularidade do presidente Fernando Henrique Cardoso atinge, no momento, o auge, pelo menos entre a população da cidade de São Paulo, conforme registra o Datafolha em pesquisa que está sendo publicada hoje neste jornal.
Há uma lógica óbvia nesse fato: em época de recessão e elevado desemprego, é difícil haver governante que consiga ser popular. E é importante observar que a pesquisa foi feita apenas na cidade que é o centro de uma região metropolitana em que o desemprego é mais elevado.
Mas há alguns elementos que tornam ainda mais negativos, para o presidente, os dados hoje divulgados. Primeiro, a constatação de que o controle da inflação, um importante ativo eleitoral, como ficou claramente demonstrado nos pleitos de 94 e 98, já não basta para sustentar o prestígio do governante.
É um indício a mais em favor da tese de que a estabilidade é um bem precioso e indispensável, mas já não basta para satisfazer a sociedade.
Segundo, o grito "ganhamos de novo" com que o presidente saudou, há dias, o que considera a superação do momento mais agudo da crise não encontra eco na maioria do público, tanto que 49% dos pesquisados pelo Datafolha consideram "ruim/péssimo" o desempenho do governo.
Mais grave ainda é a descrença da maioria na palavra do presidente. Fernando Henrique Cardoso repete, uma e outra vez, que sua intervenção no leilão das teles visou apenas defender o interesse público.
Mas 58% dos paulistanos dizem que o presidente agiu mal ao permitir que seu nome fosse utilizado. Vale notar que idêntica descrença aparece na pergunta sobre a atitude da Folha ao divulgar o conteúdo de fitas do grampo dos telefones de quem negociou a privatização das teles. Para o presidente, em nota oficial, foi "sensacionalismo". Para 85% dos pesquisados, a Folha agiu bem.
Tudo somado, parece claro que consertar a economia pode não ser suficiente para reconstruir a popularidade de FHC. Será igualmente preciso recuperar sua credibilidade.


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