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O AUGE DA DESCRENÇA
O declínio da popularidade do presidente Fernando Henrique Cardoso
atinge, no momento, o auge, pelo
menos entre a população da cidade
de São Paulo, conforme registra o
Datafolha em pesquisa que está sendo publicada hoje neste jornal.
Há uma lógica óbvia nesse fato: em
época de recessão e elevado desemprego, é difícil haver governante que
consiga ser popular. E é importante
observar que a pesquisa foi feita apenas na cidade que é o centro de uma
região metropolitana em que o desemprego é mais elevado.
Mas há alguns elementos que tornam ainda mais negativos, para o
presidente, os dados hoje divulgados. Primeiro, a constatação de que o
controle da inflação, um importante
ativo eleitoral, como ficou claramente demonstrado nos pleitos de 94 e
98, já não basta para sustentar o
prestígio do governante.
É um indício a mais em favor da tese
de que a estabilidade é um bem precioso e indispensável, mas já não
basta para satisfazer a sociedade.
Segundo, o grito "ganhamos de novo" com que o presidente saudou, há
dias, o que considera a superação do
momento mais agudo da crise não
encontra eco na maioria do público,
tanto que 49% dos pesquisados pelo
Datafolha consideram "ruim/péssimo" o desempenho do governo.
Mais grave ainda é a descrença da
maioria na palavra do presidente.
Fernando Henrique Cardoso repete,
uma e outra vez, que sua intervenção
no leilão das teles visou apenas defender o interesse público.
Mas 58% dos paulistanos dizem
que o presidente agiu mal ao permitir
que seu nome fosse utilizado. Vale
notar que idêntica descrença aparece
na pergunta sobre a atitude da Folha
ao divulgar o conteúdo de fitas do
grampo dos telefones de quem negociou a privatização das teles. Para o
presidente, em nota oficial, foi "sensacionalismo". Para 85% dos pesquisados, a Folha agiu bem.
Tudo somado, parece claro que
consertar a economia pode não ser
suficiente para reconstruir a popularidade de FHC. Será igualmente preciso recuperar sua credibilidade.
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