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JOÃO SAYAD
Buenos Aires
CONTINUA LINDA e está barata. São Paulo é feia, interessante, querida, mas é uma
das cidades mais caras da América
Latina. Vale a pena ir a Buenos Aires tomar vinho, comer bem e passear.
A diferença entre Buenos Aires e
São Paulo é a taxa de câmbio. Três
pesos compram um dólar, enquanto um dólar custa apenas dois reais.
Um real vale um peso e meio.
Taxa de câmbio é o preço de tudo
o que se produz no país. Dólar a
dois, o Brasil está caro. Melhor produzir aço e sapato na China, fazer
turismo em Miami, produzir menos soja e menos carne. As montadoras preferem instalar unidades
nos países de câmbio mais caro e
anunciam demissões no Brasil.
A taxa de câmbio em quase todo
o mundo é flutuante. Se fosse fixa,
atrairia especuladores do mundo
inteiro para apostar contra. Flutuação é um mal necessário. Mas o
câmbio pode ser controlado pelos
juros e por compras de dólares pelos bancos centrais.
Vivemos um mundo de fartura.
Sobram verduras, cereais, carne,
relógios, automóveis, bolsas e tênis. Ladrões contemporâneos não
roubam maçãs como antigamente.
Roubam produtos de marca-Rolex, Nike, genuínos ou falsos, não se
sabe por que ou para que.
As únicas coisas que faltam são
água limpa, ar puro e principalmente empregos que dependem da
taxa de câmbio. País caro produz e
emprega pouco. País barato produz
muito, emprega e investe muito. É
por isso que Argentina, China e
EUA crescem rápido. E o Japão, o
Brasil e a Europa crescem pouco.
Países que se preocupam com
produção e emprego se digladiam
usando o câmbio como espada.
Quem pode desvaloriza a moeda,
atrai investimentos, cria empregos
e cresce. A China quer criar empregos para 200 milhões de trabalhadores e controla a taxa de câmbio
comprando dólares. Os Estados
Unidos fazem déficit público e deixam o dólar se desvalorizar.
A opinião pública brasileira não
quer, pois: a) aceita os juros mais
altos do mundo que atraem ainda
mais dólares e não permitem que o
Banco Central compre dólares. É
impossível comprar pagando juros
de 15% ao ano; b) não liga para
crescimento e emprego. Espera pacientemente, há 20 anos, que com
inflação baixa, algum dia e daqui a
algumas gerações adicionais, voltemos a crescer; c) entre mais inflação e mais desemprego, escolhe
sempre mais desemprego. O país é
conservador e não se incomoda
com a criminalidade; d) há oito
anos é vítima inocente do populismo cambial. Vota em gasolina e importados baratos. Produção, emprego e crescimento não ganham
eleição.
jsayad@attglobal.net
JOÃO SAYAD escreve às segundas nesta coluna.
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