São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2006

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JOÃO SAYAD

Buenos Aires

CONTINUA LINDA e está barata. São Paulo é feia, interessante, querida, mas é uma das cidades mais caras da América Latina. Vale a pena ir a Buenos Aires tomar vinho, comer bem e passear. A diferença entre Buenos Aires e São Paulo é a taxa de câmbio. Três pesos compram um dólar, enquanto um dólar custa apenas dois reais. Um real vale um peso e meio.
Taxa de câmbio é o preço de tudo o que se produz no país. Dólar a dois, o Brasil está caro. Melhor produzir aço e sapato na China, fazer turismo em Miami, produzir menos soja e menos carne. As montadoras preferem instalar unidades nos países de câmbio mais caro e anunciam demissões no Brasil.
A taxa de câmbio em quase todo o mundo é flutuante. Se fosse fixa, atrairia especuladores do mundo inteiro para apostar contra. Flutuação é um mal necessário. Mas o câmbio pode ser controlado pelos juros e por compras de dólares pelos bancos centrais. Vivemos um mundo de fartura.
Sobram verduras, cereais, carne, relógios, automóveis, bolsas e tênis. Ladrões contemporâneos não roubam maçãs como antigamente.
Roubam produtos de marca-Rolex, Nike, genuínos ou falsos, não se sabe por que ou para que. As únicas coisas que faltam são água limpa, ar puro e principalmente empregos que dependem da taxa de câmbio. País caro produz e emprega pouco. País barato produz muito, emprega e investe muito. É por isso que Argentina, China e EUA crescem rápido. E o Japão, o Brasil e a Europa crescem pouco.
Países que se preocupam com produção e emprego se digladiam usando o câmbio como espada.
Quem pode desvaloriza a moeda, atrai investimentos, cria empregos e cresce. A China quer criar empregos para 200 milhões de trabalhadores e controla a taxa de câmbio comprando dólares. Os Estados Unidos fazem déficit público e deixam o dólar se desvalorizar.
A opinião pública brasileira não quer, pois: a) aceita os juros mais altos do mundo que atraem ainda mais dólares e não permitem que o Banco Central compre dólares. É impossível comprar pagando juros de 15% ao ano; b) não liga para crescimento e emprego. Espera pacientemente, há 20 anos, que com inflação baixa, algum dia e daqui a algumas gerações adicionais, voltemos a crescer; c) entre mais inflação e mais desemprego, escolhe sempre mais desemprego. O país é conservador e não se incomoda com a criminalidade; d) há oito anos é vítima inocente do populismo cambial. Vota em gasolina e importados baratos. Produção, emprego e crescimento não ganham eleição.


jsayad@attglobal.net

JOÃO SAYAD
escreve às segundas nesta coluna.


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