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CLÓVIS ROSSI
Palocci, cadê você?
LISBOA - De repente, deu saudades de Antonio Palocci. Bom de papo, sempre muito calmo, capaz de
auto-ironia e de um certo grau de
franqueza, o que, na vida política
brasileira, já é muita coisa.
Uma vez, num jantar em Washington, durante a assembléia geral
do Fundo Monetário Internacional, em 2003, perguntei se ele entendia de economia. Admitiu que só
sabia do macro, por ter sido prefeito
de Ribeirão e membro da Comissão
de Finanças da Câmara Federal.
O interessante é que, com essa limitação, Palocci transformou-se
durante a maior parte do primeiro
período Lula no verdadeiro gênio
da raça, o homem que conseguira
pôr ordem e racionalidade na economia brasileira, o sustentáculo do
governo, o herói maior de um punhado de jornalistas econômicos,
de consultores idem e, claro, da
grande banca.
Foi vítima não de um fracasso na
economia, mas de um grave pecado
institucional, ao tentar transformar
em culpado o caseiro que o acusava.
Caiu, mas, apesar de ser tido como sustentáculo da economia, não
aconteceu nada com ela. Entrou
Guido Mantega, que não se cansara
de fazer críticas em voz baixa ao colega de governo e partido. Não mudou nada de essencial.
Hoje em dia, ninguém procura
Palocci para falar do que quer que
seja. De economia, menos ainda. Ou
seja, descobriu-se que ele nem era o
gênio da raça nem era o sustentáculo da economia nem era o dono da
política econômica.
Os que precisam de um inimigo
para sobreviver dirão que o dono
hoje chama-se Henrique de Campos Meirelles.
Posso estar enganado, mas a política econômica, com ou sem Palocci, não é de uma pessoa física em
particular, mas do que os argentinos gostam de chamar de "poderes
fácticos". Quem manda de fato no
país, quiçá no mundo.
Por isso, Palocci foi do estrelismo
para o ostracismo total.
crossi@uol.com.br
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