São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Queria a Lua

PARIS - O título de hoje é roubado de Pietro Ingrao, veteraníssimo comunista italiano (93 anos), ex-presidente da Câmara dos Deputados. Seu livro "Pedía la Luna" está sendo lançado agora na Espanha, depois de ter saído na Itália.
Explica o título o próprio Ingrao, em entrevista publicada sábado por Babélia, o suplemento cultural do jornal "El País": "Na minha terra [Lenola, região do Lázio], nas grandes noites estreladas de verão e primavera, dá a impressão de que se pode pegar a Lua, quando sai entre as montanhas. Quando pequeno, queria pegá-la, como contei em um livro."
"Uma noite, na hora de ir para a cama, não queria fazer pipi, como fazia sempre, e minha mãe, um pouco desesperada, chamou meu pai, que me disse, brincando: O que você quer de presente para fazer pipi? Olhando pela janela na direção do vale e das montanhas, vi a Lua brilhando sugestivamente e lhe disse: Quero a Lua".
"Assim, a Lua se converteu em símbolo de algo muito bonito que não se consegue agarrar."
Ingrao cresceu e escolheu uma nova Lua para perseguir: o comunismo como "símbolo de algo muito bonito". Pode-se odiar a sua escolha, que ele, aliás, admite ter sido um fracasso. Mas não dá para negar que o mundo moderno tornou-se esquivo demais à busca da Lua, qualquer Lua.
Há muita gente, suponho, que tem lá suas "luas" individuais ou coletivas. O time de futebol da Espanha que acaba de ganhar a Eurocopa, após 44 anos, assumiu um slogan mercadológico e provou que "impossible is nothing".
O que quero dizer é que no mundo político -e, por extensão, na administração de países, cidades, Estados, regiões-, já não se vê ninguém querendo agarrar a Lua. Na melhor das hipóteses, administram o possível, nada mais. Talvez, se quisessem a Lua, iriam algo além do possível. Talvez.

crossi@uol.com.br


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