São Paulo, domingo, 03 de julho de 2011

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ELIANE CANTANHÊDE

Itamar, o sucesso do acaso

BRASÍLIA - Itamar Franco foi o ousado e divertido protagonista de um gesto político antológico deste quarto de século desde a redemocratização. Um gesto exemplar.
Presidente por um desses acasos da vida e da política, num momento em que os brasileiros tentavam dividir o mundo entre "os bons" e "os maus" pelo ângulo da ética, Itamar chamou o então senador Antonio Carlos Magalhães em palácio. Queria explicações para o que ele dizia em público contra a honra do ministro Jutahy Magalhães, amigo pessoal de Itamar e inimigo político do lendário ACM na Bahia.
ACM estufou o peito, pôs um bojudo "dossiê" debaixo do braço e lá se foi para o Planalto, pronto para acabar com a carreira política de Jutahy. Abriram-se as portas para a multidão de fotógrafos, espocaram os flashes. E Itamar: "Pode continuar!". ACM, subitamente desnorteado: "Mas com eles aqui?".
Sim, com toda a imprensa ali, para expor de vez a tática maliciosa de ACM contra adversários e salvar não apenas a carreira, como a honra e a imagem pública de Jutahy. Não deu outra. A montanha pariu um rato. Aberto o tal "dossiê", o que havia era um punhado de papéis inúteis e cópias de reportagens -da imprensa carlista da Bahia.
Esse era Itamar, um homem simples que se fazia de simplório, às vezes chegado a miudezas, mas também capaz de grandes gestos.
Na Presidência, foi beneficiado pela boa vontade com a transição e por uma sólida aliança que lhe deu sustentação política, dos militares à esquerda (com exceção do PT), na qual reluzia a figura de Fernando Henrique Cardoso.
Internamente, apoiou-se na "turma do pão de queijo" -velhos amigos mineiros que se digladiavam pela atenção do presidente e pela capacidade de influenciá-lo.
A leucemia avassaladora o pegou aos 81 anos, em plena forma política. No Senado, mostrou vigor e coragem na crítica responsável e consequente. Já está fazendo falta.

elianec@uol.com.br


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