São Paulo, domingo, 03 de julho de 2011

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ÉRICA FRAGA

Chávez: pior sem ele?

Há três décadas a América Latina não registrava taxa de crescimento tão alta quanto os 6,1% de 2010. Já a Venezuela, quarta maior economia da região, figurou entre os poucos países do mundo que nem sequer ensaiaram uma recuperação pós-crise financeira e amargaram recessões.
A lista de mazelas econômicas colecionadas pelo governo de Hugo Chávez em anos recentes não para por aí: inflação beirando 30% ao ano; rombo crescente nas contas públicas; fuga de investimentos estrangeiros; queda na produção de petróleo.
Economia em frangalhos e insatisfação social caminham de mãos dadas. Não tem sido diferente na Venezuela.
As ruas do país viraram palco diário de protestos. Nos primeiros cinco meses de 2011 foram registradas 2.067 manifestações em todo o país -uma média de quase 14 por dia-, segundo o Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso).
As reclamações mais comuns tangem problemas de moradia -que se acentuaram com as últimas enchentes- e a criminalidade que faz de Caracas uma das cidades mais violentas do mundo. Das prisões superlotadas emergiram uma série de conflitos que resultaram em mortes.
Em meio à crise, Chávez governa remotamente. Está em Cuba há quase um mês e, na quinta-feira passada, teve de admitir que se trata contra um câncer no país amigo.
Tentou se mostrar otimista, mas não revelou detalhes sobre a enfermidade.
A ausência e a doença repentinas do líder têm sido motivo de inquietação.
Talvez não reste muita dúvida na Venezuela de que o socialismo bolivariano é culpado pelos problemas do país.
As políticas nacionalistas espantaram o investimento privado e o governo foi ineficiente na administração dos ativos que colocou sob suas asas. Tudo isto mesmo com os preços do petróleo nas alturas em anos recentes.
Apesar disso, Chávez permanece bastante popular. Não surpreende. No poder desde 1999, ele aniquilou a oposição, que só recentemente começou a se reerguer.
Ao contrário de amigos, como Néstor Kirchner, da Argentina, morto em 2010, e Fidel Castro, de Cuba, não formou sucessor. Criou e incorporou a imagem de líder eterno, reforçada por mudança constitucional que eliminou limites à sua perpetuação no poder.
A recusa de Chávez em passar a Presidência interinamente para seu vice confirma sua força e a debilidade dos demais. Levanta também dúvidas sobre o risco de que um vácuo político criado por possível saída de cena repentina de Chávez mergulhe a Venezuela no caos social.
Ruim com Chávez; pior sem ele? É pergunta legítima neste momento até para democratas que gostariam de ver o líder derrotado na eleição de 2012.

ÉRICA FRAGA é repórter especial da Folha.


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