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CERVEJA TAMANHO FAMÍLIA
A fusão entre Antarctica e Brahma
criou um dilema: os ganhos de escala
e de poder de mercado tendem a criar
uma empresa mais competitiva, mas
a concentração de poder é tanta no
mercado de cerveja (70%) que há dúvidas sobre os impactos da fusão. É
bem verdade que, no campo das bebidas alcoólicas, o mesmo não se verificará, dado que as duas empresas dispõem de 35% nesse mercado.
Mais de dois séculos de teoria econômica consagraram a noção de que
o bem-estar social aumenta quando
cresce a competição entre empresas.
Apesar dos teóricos, na prática as
grandes companhias tornaram-se
dominantes em todo o mundo.
No caso das cervejas brasileiras, há
razões para temer efeitos danosos a
fornecedores, ao varejo e ao consumidor. E a ressalva não é meramente
teórica. Basta lembrar alguns dos
lances da "guerra das cervejas", num
passado não muito distante, quando
as empresas agora fundidas pelejavam intensamente pelo aumento de
suas fatias de mercado. Eram frequentes, por exemplo, operações casadas, em que a compra de cerveja pelos estabelecimentos comerciais era
condicionada à inclusão no pedido
dos refrigerantes da mesma marca.
O argumento de que a operação industrial eficiente exige grandes escalas é, no caso, irrefutável. Segundo a
nova empresa, com a fusão ela poderá
conquistar condições de competição
internacional. O problema talvez esteja não na busca dessa escala, que
hoje ocorre em todo o mundo, e sim
na criação de salvaguardas e monitoramento eficazes. Exemplos não faltam, como se vê com a Microsoft.
O Brasil já dispõe de uma estrutura
relativamente madura de órgãos de
fiscalização e regulação da concorrência, como o Cade. É fundamental
que o julgamento desse ato de concentração ocorra com o máximo de
rigor e coloque em relevo não só as
virtudes do ganho de escala, mas sobretudo os direitos de todos os envolvidos com a megaempresa, como fornecedores, clientes e consumidores.
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