São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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CERVEJA TAMANHO FAMÍLIA

A fusão entre Antarctica e Brahma criou um dilema: os ganhos de escala e de poder de mercado tendem a criar uma empresa mais competitiva, mas a concentração de poder é tanta no mercado de cerveja (70%) que há dúvidas sobre os impactos da fusão. É bem verdade que, no campo das bebidas alcoólicas, o mesmo não se verificará, dado que as duas empresas dispõem de 35% nesse mercado.
Mais de dois séculos de teoria econômica consagraram a noção de que o bem-estar social aumenta quando cresce a competição entre empresas. Apesar dos teóricos, na prática as grandes companhias tornaram-se dominantes em todo o mundo.
No caso das cervejas brasileiras, há razões para temer efeitos danosos a fornecedores, ao varejo e ao consumidor. E a ressalva não é meramente teórica. Basta lembrar alguns dos lances da "guerra das cervejas", num passado não muito distante, quando as empresas agora fundidas pelejavam intensamente pelo aumento de suas fatias de mercado. Eram frequentes, por exemplo, operações casadas, em que a compra de cerveja pelos estabelecimentos comerciais era condicionada à inclusão no pedido dos refrigerantes da mesma marca.
O argumento de que a operação industrial eficiente exige grandes escalas é, no caso, irrefutável. Segundo a nova empresa, com a fusão ela poderá conquistar condições de competição internacional. O problema talvez esteja não na busca dessa escala, que hoje ocorre em todo o mundo, e sim na criação de salvaguardas e monitoramento eficazes. Exemplos não faltam, como se vê com a Microsoft.
O Brasil já dispõe de uma estrutura relativamente madura de órgãos de fiscalização e regulação da concorrência, como o Cade. É fundamental que o julgamento desse ato de concentração ocorra com o máximo de rigor e coloque em relevo não só as virtudes do ganho de escala, mas sobretudo os direitos de todos os envolvidos com a megaempresa, como fornecedores, clientes e consumidores.



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