|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Políticas sociais e eleições
Estamos ainda longe de alcançar
o cumprimento da "Constituição
cidadã", que, em 1988, proclamou a
erradicação da pobreza e da marginalização pela redução das desigualdades sociais.
Algumas iniciativas foram promovidas, como a universalização de direitos à previdência e à assistência social,
o Sistema Nacional de Saúde Pública e
os assentamentos, embora insuficientes, dos sem-terra.
O recente documento da CNBB (nš
69, de abril de 2002), "Exigências
Evangélicas e Éticas de Superação da
Miséria e da Fome", que está em aplicação em todas as dioceses, coloca em
evidência o tema da promoção dos direitos sociais, lembrando que o direito
à alimentação e à nutrição é dever do
Estado e dos governos -"não deixando faltar a nenhuma pessoa alimento
em qualidade e quantidade suficientes
para atender às necessidades do próprio organismo".
Para levar adiante essa urgente meta
de assegurar o "alimento -dom de
Deus- para todos", reuniram-se, de
22/7 a 24/7, em Brasília, representantes de 42 entidades e, após fecundo intercâmbio de reflexões e sugestões, redigiram uma declaração aos candidatos a postos eletivos do Executivo e Legislativo visando à construção de uma
sociedade solidária. O texto, que reafirma o direito humano à alimentação
e à nutrição, insiste em três aspectos:
1. A fome e a miséria são manifestações e partes integrantes de um modelo de desenvolvimento que reproduz
as desigualdades econômicas e sociais
que flagelam o nosso povo; usa de forma predatória os recursos naturais e
coloca em risco a soberania alimentar.
Ora, esse modelo está esgotado sob o
ponto de vista ambiental, econômico,
ético e social. Basta, com efeito, constatar a situação aflitiva do desemprego
e o número crescente de excluídos.
2. Segue-se daí a necessidade de
reorganizar a sociedade brasileira de
forma equitativa e solidária a partir de
critérios éticos, cujas prioridades sejam a promoção e a defesa da pessoa
humana e dos direitos sociais, a começar pela política de segurança alimentar e nutricional sustentável.
3. Compete aos futuros dirigentes do
país, com a colaboração de todos os cidadãos, assumirem a grave responsabilidade que lhes pertence na promoção dos direitos sociais e do reordenamento do sistema econômico que permita investir pesadamente nos bens
sociais: o alimento, o teto, a terra, a
água, o trabalho, a educação, a saúde e
a participação política.
Segue-se a lista das entidades que assinam o documento e a relação das 13
iniciativas e campanhas que expressam a capacidade de mobilização da
sociedade civil, como a implantação
do Sistema de Vigilância Alimentar e
Nutricional (Sisvan) em âmbito nacional, a preservação das águas, o
acesso à terra, a construção de cisternas no semi-árido, o fortalecimento
da agricultura familiar sustentável, a
rejeição dos transgênicos e outros.
Neste tempo de propaganda e de
preparação das eleições, é de suma
importância identificar as necessidades da população e conceder prioridade às políticas sociais.
De minha parte, permito-me, em
bem do povo, solicitar aos futuros dirigentes especial atenção ao preço do
gás e à melhoria das condições de
atendimento à saúde. Peçamos a Deus
que nos ajude a escolher, para dirigir o
país, homens e mulheres que amem o
povo e coloquem o bem comum acima de interesses pessoais.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro Carlos Heitor Cony: 2019 Próximo Texto: Frases
Índice
|