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DEMÉTRIO MAGNOLI
O que há num nome
OS EUA divulgam a cada ano
uma lista de organizações
terroristas, na qual constam
o Hamas palestino e o Hizbollah libanês. A ONU não tem uma lista
desse tipo. O Brasil também não.
A identificação de atos terroristas é procedimento diferente da rotulagem de agrupamentos como
terroristas. O primeiro fundamenta uma condenação moral, que é
indispensável para separar a civilização da barbárie. O segundo representa um ato crucial no discurso político, com repercussões perigosas.
O terror é uma forma de negação
da política, mas, ao mesmo tempo,
integra a política contemporânea.
O IRA, responsável por incontáveis
atos de terror, tornou-se interlocutor do Estado britânico e incorporou-se à vida política irlandesa. O
Irgun, um grupo sionista clandestino que atuou na Palestina Britânica, foi classificado como organização terrorista pelos britânicos e pela Agência Judaica. Mas, em 1948,
seus militantes ingressaram no
exército de Israel e, em 1972, seus
líderes fundaram o partido Likud.
Dois desses líderes, Menachem Begin e Yitzhak Shamir, chefiaram
gabinetes de Israel.
O Hamas, um ramo ideológico da
Irmandade Muçulmana egípcia,
constituiu um movimento político
na Palestina. Em janeiro, venceu
eleições legítimas, realizadas no arcabouço dos acordos de paz, tornando-se governo autônomo palestino. O Hizbollah, originalmente um fruto externo da revolução
islâmica iraniana, desenvolveu-se
como guerrilha de resistência à
ocupação israelense do sul do Líbano de 1982. Depois, na moldura da
Revolução do Cedro, firmou-se como partido popular dos xiitas libaneses, reunindo 500 mil pessoas
numa demonstração pública e recebendo cerca de 15% dos votos
nas eleições de 2005.
Classificar o Hamas e o Hizbollah como organizações terroristas
tem trágicas implicações lógicas.
Significa, quase inapelavelmente,
caracterizar os palestinos e os xiitas libaneses como nações terroristas. Israel, amparado pela doutrina
da "guerra ao terror", adotou essa
orientação insensata, que se expressa como uma licença para matar civis e destruir as infra-estruturas públicas na Palestina e no Líbano. Os EUA suportam essas iniciativas militares, destroçando os resquícios de sua autoridade diplomática no mundo árabe.
No início da crise, Israel reuniu
em torno de si um raro consenso
internacional e as diversas correntes libanesas dispunham-se a isolar
o Hizbollah. Mas a escalada de
bombardeios, baseada na utopia
sangrenta da eliminação das "organizações terroristas", reverteu o
cenário. Daqui em diante, independente da evolução militar, o resultado político está definido: o terror
venceu, ao tornar-se nação.
magnoli@ajato.com.br
DEMÉTRIO MAGNOLI escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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