São Paulo, terça-feira, 03 de agosto de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Aécio sob pressão

SÃO PAULO - Aécio Neves sempre disse que sua prioridade este ano seria eleger seu então vice, Antonio Anastasia, governador de Minas. Insistiu muito na importância estratégica da sua sucessão para resistir à pressão de que fosse vice de José Serra. Ao mesmo tempo em que costurava o jogo local, o mineiro vendeu até quando foi possível a ideia de que, no cenário nacional, ele representaria o "pós-Lula". Fazia um evidente contraponto a Serra, o "anti-Lula", quisesse ou não.
O "pós-Lula" foi atropelado pelos fatos. E o futuro de Aécio, para além da votação consagradora que terá ao Senado, está um tanto nebuloso. A dois meses da eleição, emplacar Anastasia parece mais complicado do que se imaginava.
As pesquisas mostram que Hélio Costa, sustentado pela aliança PMDB-PT, hoje venceria com folga. No último Datafolha, apareceu com 44%, contra 18% de Anastasia. Como os demais candidatos são inexpressivos, é praticamente certo que a fatura se liquide em 3 de outubro.
Hélio Costa tem fama de cavalo paraguaio, bom de largada, ruim de chegada. Em 1994, teve quase 49% dos votos no primeiro turno e acabou perdendo o governo para o tucano Eduardo Azeredo. Mas, desta vez, o ex-ministro de Lula tem o PT. E de verdade -o que muita gente até no PT duvidava ser possível.
Lula submeteu o partido ao projeto Dilma Rousseff e jogou Aécio no colo de Serra. O mineiro queria ser "pós", mas foi parar na oposição. Aécio não acreditava que Patrus Ananias, ex-ministro do Bolsa Família, aceitasse ser vice de Costa. Pediu a bênção à sua mãe e aceitou.
Minas viverá a sua guerra particular. Anastasia tem Aécio, tem a maioria das 853 prefeituras e o Palácio da Liberdade (que, diz-se, é o maior partido mineiro). Costa tem a máquina federal, o PT e Lula, além desse monstro tentacular, o PMDB -o "Polvo Paul" da nossa política.
Se Dilma ganhar, Aécio tende a ser o futuro da oposição, o pós-Serra. Mas se Anastasia perder, ele também terá de recolher os cacos.


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