São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2011 |
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Editoriais editoriais@uol.com.br Acordo decepcionante Pacote de corte de despesas evita calote americano, mas quase não traz alento para as economias combalidas dos Estados Unidos e da Europa Com a aprovação no Senado e na Câmara dos EUA, foi vencida a última etapa para elevar o limite de endividamento público americano, afastando o calote iminente. O acordo foi concebido para que os dois lados, democratas e republicanos, pudessem vendê-lo para suas bases políticas. Parece evidente, contudo, que republicanos levaram a melhor -e a economia mundial se avizinhou do pior. O acordo prevê um corte de até US$ 2,4 trilhões em despesas nos próximos dez anos. Em troca, haverá um aumento no limite de endividamento de US$ 2,1 trilhões, a princípio suficiente para evitar um novo confronto político sobre o tema antes das eleições de 2012, como queria Barack Obama. Os cortes de gastos serão feitos em duas etapas. A primeira, de US$ 917 bilhões em dez anos, recairá sobre despesas que precisam ser aprovadas anualmente pelo Congresso. A segunda dependerá de uma comissão parlamentar a ser criada, que terá até novembro para reduzir o deficit em mais US$ 1,5 trilhão. Caso a comissão não conclua o trabalho no prazo, o acordo prevê cortes de até US$ 1,2 trilhão, divididos entre orçamento militar e outras despesas. Os detalhes do acordo pendem para os republicanos. Todo o ajuste recairá sobre gastos, sem um centavo de aumento de receitas, ao menos por ora. Obama ainda poderá trabalhar contra a renovação dos cortes de impostos para famílias mais ricas, medida dos republicanos que expira em 2012. Mas é incerto que o polarizado ambiente eleitoral permita ao presidente endurecer na matéria, depois do flagrante recuo. Por fim, o corte é insuficiente para afastar o risco de um rebaixamento da nota de crédito americana nos próximos meses. Não resultará na estabilização da dívida em prazo visível, como queriam as agências de classificação de risco. O enfrentamento político das últimas semanas obscureceu outro desenvolvimento preocupante, uma redução acelerada do crescimento. Os dados mais recentes mostram um incremento do PIB de apenas 0,8% ao ano, no primeiro semestre, muito abaixo das expectativas. E já despencam as projeções para o resto do ano. A incapacidade da economia americana de crescer, mesmo depois dos maciços estímulos dos últimos três anos, mostra que o setor privado ainda não está preparado para sustentar a atividade econômica sem o estímulo fiscal. Isto é, o pretendido corte no orçamento poderá agravar o risco recessivo, inclusive na Europa, que também patina com dívidas excessivas. Os mercados de ações já operam pensando no pior. Espanha e Itália, ontem, lutavam para não se engolfarem em nova crise. Para os países emergentes, revigora-se o fluxo de capital em busca de oportunidades rentáveis. Salvo novo episódio de recessão profunda, que ora parece menos improvável, a tendência de perda de valor do dólar deve continuar no mundo todo -Brasil incluído. Próximo Texto: Editoriais: Dúvida na saúde paulista Índice | Comunicar Erros |
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