São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2001

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CARLOS HEITOR CONY

A razão da razão

RIO DE JANEIRO - Que foi um precedente perigoso, foi. Já comentei a ida do governador de São Paulo à casa do Silvio Santos, expondo-se a ser morto ou trocado, ficando refém do sequestrador. Uma autoridade de seu escalão não poderia correr este risco.
Contudo fica a questão principal. Se o sequestrador tivesse matado o empresário e mais dois ou três policiais, e ainda que também fosse morto ou se suicidasse, tanto sangue justificaria a sacralidade de um cargo, por mais importante que fosse?
O caso terminou bem, apesar da morte de dois policiais, que foram heróis mas bobearam, pois agiram fora das normas técnicas que estão dando resultados -é grande o número de sequestros bem resolvidos com ou sem pagamento de resgate.
A estrutura policial, tanto em São Paulo como no resto do Brasil, comete erros. Mas, neste departamento específico, acho que está conseguindo avanços -a menos que as estatísticas de que dispomos estejam macetadas.
Um sequestro com ameaça de morte é uma emergência que pode ser comparada à emergência de um vôo. Há toda uma rotina a ser obedecida, em terra e no ar, para vencer o desafio. Mas tudo se canaliza para o piloto, que teoricamente é o mais preparado para dominar a situação. Em tese, ele tem preparo técnico e condições psicológicas para enfrentar o risco. Precisa ser eficazmente ajudado por toda a estrutura, mas é dele a condução do processo.
No caso em pauta, esse técnico desempenhou o seu papel, apesar da muita confusão reinante. O pedido do sequestrador, apoiado pelo sequestrado, de trazer o governador ao local do sequestro, teve a sua aprovação.
O governador consultou o técnico. A partir daí, o erro ou o acerto da medida teria um responsável. O governador, na realidade, cumpriu uma ordem que, na circunstância, era superior à sua autoridade.


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