São Paulo, quinta-feira, 03 de setembro de 2009

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KENNETH MAXWELL

Contratempo x oportunidade

A CONFERÊNCIA de cúpula dos líderes da América do Sul, realizada sexta-feira em Bariloche, serviu como um inflexível lembrete de que esse tipo de encontro só produz resultados caso seja preparado cuidadosamente. Não foi o caso em Bariloche.
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, não participou da reunião anterior, em agosto, no Equador, devido a desacordos entre o Equador e a Colômbia, agravados pela incursão armada colombiana ao território equatoriano em 2008.
Não só as forças do país mataram um importante líder guerrilheiro como encontraram computadores que, segundo elas, revelam até que ponto Venezuela e Equador colaboram com a guerrilha.
A Colômbia, em seguida, usou a expulsão das Forças Armadas norte-americanas de sua base em Manta, Equador, para fortalecer sua aliança com os EUA. Sob um novo acordo com a Colômbia, os EUA receberão acesso a sete bases militares colombianas para operações conjuntas de combate à guerrilha e ao narcotráfico.
A conferência de cúpula de Bariloche tinha por objetivo expressar as preocupações sul-americanas quanto a esse novo acordo entre Colômbia e EUA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que o presidente Barack Obama fosse convidado, a fim de explicar a posição dos EUA. Mas Obama estava de férias. Jamais houve indicação de que ele participaria.
Assim, o presidente Uribe se tornou o foco das atenções em Bariloche. O presidente Hugo Chávez, a despeito de um discreto apelo do presidente Lula para que mantivesse o silêncio, aproveitou a ocasião para atacar o vizinho. Lula aparentemente não aprendeu com o fracasso do rei da Espanha em conter os excessos verbais de Chávez durante a conferência de cúpula ibero-americana. Pouco admira que o presidente Uribe tenha contraído gripe suína pouco depois de retornar a Bogotá.
A conferência de cúpula de Bariloche causou divisão ainda maior em uma região já rachada em razão de agendas concorrentes. E se concentrou em um acordo que só serve para demonstrar até que ponto os EUA estão fora de contato com as questões hemisféricas.
Na segunda-feira, Lula se voltou a assuntos mais importantes para o futuro do Brasil: os planos de seu governo para a gestão das vastas reservas de petróleo identificadas na área do pré-sal. E a Organização Mundial de Comércio decidiu em favor do Brasil em uma longa disputa com os Estados Unidos quanto a subsídios à produção de algodão, o que volta a destacar a crescente importância do Brasil no comércio mundial.
Como Lula declarou recentemente: "Deus deu mais uma chance".


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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