|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Iraque, ano zero
Estados Unidos deixam país em situação difícil após sete anos de uma invasão militar que teve elevados custos humanos, políticos e morais
"Da queda de Saddam até agora, nada mudou. Pelo contrário.
Nós continuamos andando para
trás." A frase de um cidadão iraquiano ouvido nesta semana pelo
jornal "The New York Times" mostra que, após sete anos e meio de
presença militar americana, o Iraque ainda tem pela frente um longo caminho de reconstrução.
Para alguns, a guerra, iniciada
sob acusações falaciosas de George W. Bush (2001-2009), teria beneficiado o país com a derrubada
da ditadura de Saddam Hussein,
que governou entre 1979 e 2003. É
fato que a incipiente democracia
iraquiana pode se transformar em
auspiciosa realidade; mas essa
possibilidade de nenhuma maneira justifica invasão militar unilateral com elevados custos humanos,
materiais, políticos e morais.
Diminuíram, é verdade, os conflitos fratricidas entre os muçulmanos sunitas, que foram beneficiados sob Saddam e se tornaram
a elite governante do país, e os xiitas, em maioria, mas reprimidos
durante a ditadura. A queda no
número de atentados e vítimas só
se verifica no entanto se tomarmos como parâmetro o auge da
violência, em 2006, antes do aumento das tropas dos EUA que antecedeu a retirada.
Ações como as da semana passada, que mataram 83 pessoas,
mostram que o país está longe de
controlar os insurgentes -e alimentam as incertezas sobre a capacidade iraquiana de impedir
novas ondas de terrorismo.
O Iraque enfrenta graves problemas de infraestrutura. A água e
a eletricidade são escassas e, no
território que guarda a terceira
maior reserva de petróleo do mundo, as longas filas nos postos de
abastecimento de combustível
são uma amarga ironia.
O quadro é agravado pelas indefinições políticas: desde as eleições realizadas em março, quando a participação popular foi celebrada como sinal de apreço ao novo regime, os partidos foram incapazes de formar um governo.
O atual primeiro-ministro, Nuri
al Maliki, cuja sigla, majoritariamente xiita, obteve a segunda
maior bancada, nega-se a ceder o
poder a Iyad Allawi, líder da agremiação vitoriosa - que congrega
xiitas e sunitas. A diferença de
apenas dois assentos entre as bancadas contribui para o impasse.
Situações como essa levantam
mais dúvidas sobre a validade de
um conflito que, num país de 29
milhões de habitantes, arrancou a
vida de cerca de 100 mil civis, 20
mil insurgentes e 15 mil soldados,
entre iraquianos, americanos e
outros membros da coalizão.
Dias após derrubar o regime de
Saddam, o presidente Bush discursou sob uma faixa com os dizeres "Missão Cumprida". Desde então foram necessários sete anos de
sangrento conflito até que os EUA
pudessem, enfim, deixar o Iraque.
No discurso em que marcou o
fim das operações de combate, na
terça-feira, Barack Obama, eleito
entre outras razões por sua firme
oposição ao conflito, considerou
que "os americanos que serviram
no Iraque completaram todas as
missões que lhes foram dadas".
Os próximos anos mostrarão se
a fala do atual presidente dos EUA
é tão ilusória quanto a faixa que
pairou sobre seu antecessor.
Próximo Texto: Editoriais: A Copa em Itaquera
Índice
|