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JOSÉ SARNEY
Guerra e sigilo
Clausewitz, o maior filósofo
da guerra, afirmou ser ela uma
continuação da política por
outros meios. No Brasil Colônia (séc. 16 e 17), no enfrentamento com os índios, até os
padres falavam em guerra justa, destinada a salvar as almas
dos indígenas do diabo. Anchieta foi um encabulado
adepto dessa linha.
Nos tempos atuais, Bush, o
novo, com a inteligência que
tem, lhe deu sofisticação, confeitou com chantilly, inovou
-criando outro tipo de guerra,
a preventiva, feita para evitar
outra guerra. Resultado: tudo
guerra.
Com meu temperamento
cristão, pacifista e humanista,
todas as guerras são más, catastróficas e sem resultados
positivos -e não modificam
nada, a não ser curvas momentâneas da história. E o homem inventou coisas terríveis
de matança coletiva, desde o
timbó das tribos primitivas até
as armas nucleares e as bombas de fragmentação, estas
que distribuem balas de morte
para provocar extermínio de
inocentes.
Obama anunciou o término
da Guerra do Iraque, iniciada
há sete anos para combater o
terrorismo e as armas de destruição em massa e para fazer
o mundo mais seguro. O único
objetivo alcançado foi o pescoço de Saddam.
O fim da guerra também é
exótico. Acaba a guerra, mas
não acaba. Palavras de Obama: "Não vamos cantar vitória, nossa tarefa no Iraque não
terminou". Permanecerão 50
mil soldados, e os EUA abrirão
"unidades diplomáticas" em
Mosul, Erbil, Basora e Kirkuk.
Envolveram-se na aventura
1 milhão de soldados americanos, morreram 4.247, e 34.268
saíram feridos. A coligação internacional amargou 4.734 vítimas fatais, e o sofrido país invadido perdeu 106.147 vidas.
O Iraque não se tornou democrático nem se transformou em "aliado eficaz", como
sonhara Bush. A Al Qaeda ali
se instalou, e o Iraque ficou à
mercê da influência do Irã,
com quem tem seu maior comércio e que é o guia da maioria xiita -dois terços da população que tem o verdadeiro comando do país.
Sem eles (xiitas e Irã) não se
forma governo, como não foi
constituído depois das últimas eleições. O terror continua intenso, e tudo aponta para um único futuro: o Iraque
será um país teocrático, satélite dos aiatolás do Irã.
Somos um mundo mais seguro com a guerra terminada
que não terminou?
Aqui, nossa guerra que não
acaba é diferente: a dos sigilos
fiscais de todos os brasileiros,
que são vendidos a R$ 1 mil na
praça da Sé de São Paulo, com
grande surpresa para a mídia,
que julgava só ela ter essa
informação.
Lembro o Golbery: "Segredo só não conta quem não sabe". E alguns setores da Polícia Federal confirmam esse
pensamento.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta
coluna.
jose-sarney@uol.com.br
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