São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2011

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Editoriais

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Mais devagar

A percepção geral de que a atividade econômica perdeu ímpeto na passagem do primeiro para o segundo trimestre deste ano foi confirmada pelos números do PIB que o IBGE divulgou ontem.
A redução do ritmo de crescimento da economia sobre o trimestre anterior -de 1,2% para 0,8%- pode ser atribuída, em parte, às medidas que o governo tomou visando a moderar o ritmo de expansão do crédito (aumentos de juros, redução dos recursos à disposição dos bancos para emprestar). Atuou nesse sentido também o fortalecimento do real, que barateia as importações e encarece as exportações da indústria.
Excluída a mineração, a produção da indústria repetiu, no segundo trimestre, o nível do primeiro. Essa estagnação foi influenciada pela desaceleração das economias mais ricas a partir de abril, o que limitou o dinamismo das exportações de manufaturas. Outro fator foi a continuidade da perda de espaço, no mercado brasileiro, dos produtos industriais fabricados por aqui.
Os números sobre o volume de exportações e importações mostram o efeito desses processos sobre o crescimento da economia.
No segundo trimestre, as importações de bens e serviços foram 6,1% maiores do que no primeiro, enquanto a alta das exportações limitou-se a 2,3%. Assim, a contribuição do comércio exterior para a variação do PIB foi negativa em 0,6% -ou seja, o crescimento do PIB teria sido bem mais expressivo, chegando a 1,4% sobre o primeiro trimestre, caso exportações e importações tivessem evoluído de maneira equilibrada.
Um elemento que atuou no sentido contrário, impulsionando o Produto Interno Bruto do segundo trimestre, foi a acumulação de estoques.
Há indicações, porém, de que também em julho e agosto os estoques da indústria aumentaram, a ponto de os empresários julgarem que eles se tornaram excessivos. Isso, somado à maior incerteza em relação às economias ricas, prenuncia um freio na produção e, portanto, um terceiro trimestre com crescimento novamente modesto (ou mesmo quase nulo).
Confirma-se, assim, que a economia perde ritmo. A inflação, porém, segue salgada. A recente decisão do Banco Central de voltar a cortar a taxa de juros básica poderá se revelar arriscada, do ponto de vista do controle da inflação, caso as promessas de moderação dos gastos públicos não se traduzam em ações efetivas.


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