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CLÓVIS ROSSI
Brasil vota, pobre mas feliz
SÃO PAULO - O Brasil que vai hoje
às urnas é, na essência, do seguinte
tamanho social: metade dos eleitores (67,5 milhões) ganham, no máximo, até dois salários mínimos.
Seria preciso torturar os fatos para dizer que pertencem à classe média, esse paraíso a que foram conduzidos 30 milhões de brasileiros
segundo o ufanismo em voga.
Dos eleitores brasileiros, 13 milhões (10%, pouco mais ou menos)
é pobre, pobre mesmo. Ganham
menos de um salário mínimo. Figuram entre os 28 milhões excluídos
do sistema público de aposentadoria e auxílios trabalhistas.
São, portanto, ninguém.
Também no capítulo educação, a
pobreza é radical: 49% dos eleitores fizeram, no máximo, o curso
fundamental.
Nesse país que tanto seduz a mídia estrangeira, mais de 60% de
seus alunos não têm a capacidade
adequada na área de ciências. No
exame mais recente, o Brasil ficou
em 52º lugar entre 57 países, no
quesito ciência.
Alguma surpresa com o fato de
que a sétima ou oitava potência
econômica mundial é apenas a 75ª
colocada quando se mede o seu desenvolvimento humano?
Não tenhamos medo das palavras: o Brasil que vai às urnas é um
país pobre, obscenamente pobre
para o seu volume de riquezas naturais, território e população.
É também obscenamente desigual, apesar da lenda de que a desigualdade se reduziu. É impossível
reduzir a desigualdade em um país
que dedica ao Bolsa Família (12,6
milhões de famílias) apenas R$ 13,1
bilhões e, para os portadores de títulos da dívida pública (o andar de
cima) a fortuna de R$ 380 bilhões,
ou 36% do Orçamento-2009.
Ainda assim, é um país mais feliz
do que era há oito anos ou há 16
anos. Fácil de entender: "O pobre
quer apenas um pouco de pão, enquanto o rico, muitas vezes, quando encosta na gente, quer um bilhão", já ensinou mestre Lula.
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