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NELSON MOTTA
Heróis, vilões e manés
RIO DE JANEIRO - "A inteligência voltada para o mal é pior do que
a burrice", dizia o psicanalista Hélio
Pellegrino, cheio de razão, mas confesso que sou fã do Coringa, o vilão
do Batman, do Dr. Silvana, o cientista louco arquiinimigo do Super
Homem, e de Zé Dirceu, o amigo
trapalhão do Super Lula.
Em 1968, os líderes estudantis
que comandavam a Passeata dos
Cem Mil eram nossos pastores e
nada nos faltaria. Gorducho e mal-ajambrado, Vladimir Palmeira discursava e arrebatava a multidão
sentada no asfalto quente. Clarice
Lispector, ao lado de Vinicius de
Moraes e de Chico Buarque, e todos
nós ouvíamos embevecidos o brado
retumbante das novas lideranças
contra a ditadura.
Aqueles jovens combatentes da
liberdade viraram ídolos nos bares
de Ipanema. As garotas eram tietes
dos galãs Zé Dirceu e Marcos Medeiros, um carioca de longos cabelos louros e lisos. Os homens cultuavam os duros e feiosos Vladimir,
um alagoano arretado, e o baixinho
enfezado Luiz Travassos.
Minha primeira grande decepção
foi quando eles armaram um congresso "secreto" da UNE com 400
delegados, em Ibiúna, e a repressão
só teve que jogar a rede e puxar o arrastão, liqüidando o movimento estudantil num só golpe. Ah, esses
meninos aloprados...
Depois, com a generosidade da
juventude, a corajosa opção pela luta armada foi outro desastre que
custou a vida e o sofrimento de
muita gente idealista, bem-intencionada e burra. Travassos e Medeiros já morreram, Vladimir se eclipsou, mas Dirceu, mesmo cassado e
indiciado por aparelhar o Estado e
chefiar a quadrilha do mensalão,
continua dominando o PT e nos divertindo com suas aventuras e trapalhadas, na eterna luta pelo poder,
em nome do povo. Será um herói?
Será um vilão? Será um doidão? Ou
um Zé Mané?
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