São Paulo, sexta-feira, 03 de novembro de 2006

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NELSON MOTTA

Heróis, vilões e manés

RIO DE JANEIRO - "A inteligência voltada para o mal é pior do que a burrice", dizia o psicanalista Hélio Pellegrino, cheio de razão, mas confesso que sou fã do Coringa, o vilão do Batman, do Dr. Silvana, o cientista louco arquiinimigo do Super Homem, e de Zé Dirceu, o amigo trapalhão do Super Lula.
Em 1968, os líderes estudantis que comandavam a Passeata dos Cem Mil eram nossos pastores e nada nos faltaria. Gorducho e mal-ajambrado, Vladimir Palmeira discursava e arrebatava a multidão sentada no asfalto quente. Clarice Lispector, ao lado de Vinicius de Moraes e de Chico Buarque, e todos nós ouvíamos embevecidos o brado retumbante das novas lideranças contra a ditadura.
Aqueles jovens combatentes da liberdade viraram ídolos nos bares de Ipanema. As garotas eram tietes dos galãs Zé Dirceu e Marcos Medeiros, um carioca de longos cabelos louros e lisos. Os homens cultuavam os duros e feiosos Vladimir, um alagoano arretado, e o baixinho enfezado Luiz Travassos.
Minha primeira grande decepção foi quando eles armaram um congresso "secreto" da UNE com 400 delegados, em Ibiúna, e a repressão só teve que jogar a rede e puxar o arrastão, liqüidando o movimento estudantil num só golpe. Ah, esses meninos aloprados...
Depois, com a generosidade da juventude, a corajosa opção pela luta armada foi outro desastre que custou a vida e o sofrimento de muita gente idealista, bem-intencionada e burra. Travassos e Medeiros já morreram, Vladimir se eclipsou, mas Dirceu, mesmo cassado e indiciado por aparelhar o Estado e chefiar a quadrilha do mensalão, continua dominando o PT e nos divertindo com suas aventuras e trapalhadas, na eterna luta pelo poder, em nome do povo. Será um herói? Será um vilão? Será um doidão? Ou um Zé Mané?


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