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MARCOS NOBRE
Copenhague
e a China
EM POUCO MAIS de um mês
terá início a CoP-15, 15ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima, em Copenhague. Mas o que está em jogo
parece ter pouco que ver com meio
ambiente.
As discussões públicas têm se resumido a um jogo de empurra para
decidir quem é o culpado pelo fracasso da conferência antes mesmo
de ela acontecer. E as duas figuras
que se alternam no papel de vilões
são os EUA e a China.
A China resolveu fazer da conferência um campo de testes para um
futuro exercício efetivo de seu papel de liderança global. A condição
para isso, entretanto, é colocar a
própria crise climática em segundo
plano.
A conferência de Copenhague é
de fato a primeira queda de braço
global em relação à crise de 2008 e
seus desdobramentos. EUA e China ainda não se sentaram para negociar uma saída do mar de liquidez que ameaça afogar o mundo
nos próximos dois anos. Isso significaria, antes de qualquer coisa, negociar acordos informais sobre a
administração da taxa de câmbio.
Especialmente em relação à moeda
chinesa.
Só que a China não dá sinais de
que vai se colocar em posição negociadora. Parece preferir tentar esticar ao máximo a corda da crise e tirar o máximo proveito para conquistar territórios ao domínio dos
EUA.
A conferência de Copenhague é
um interlúdio nessa disputa. É um
bom palco para a China medir forças com os EUA, porque o tema não
é diretamente regulação econômica. Mas também porque os outros
dois parceiros habituais de uma
negociação sobre regulação internacional -Alemanha e Japão-
têm compromissos firmes e duradouros com o meio ambiente e não
querem entrar na queda de braço
de nenhum dos lados. Uma neutralização providencial. Se o tema não
fosse oficialmente meio ambiente,
os dois países estariam com certeza ao lado dos EUA na negociação.
A China tem se escondido até
agora atrás de G20s, Brics, G77s e
outros clubes de fotografia justamente para não negociar diretamente com os EUA. Já em uma
conferência sobre o clima pode
mostrar os seus dentes sem ameaçar essa tática de esconde-esconde.
Difícil saber se e quando a China
vai se colocar na posição negociadora que já lhe cabe como potência
econômica e militar. Mas, independentemente de seus interesses
estratégicos mais amplos, o fato é
que a sua atitude em relação à conferência de Copenhague autoriza
os EUA a brincar de esconde-esconde também. Como não há acordo climático global sem os EUA, o
jogo não tem vencedor. De modo
que o prêmio do desastre ambiental será dividido graciosamente
com o mundo inteiro.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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