São Paulo, terça-feira, 03 de dezembro de 2002

Próximo Texto | Índice

MERCOSUL MENOR

A crise financeira por que passam os dois principais integrantes do Mercosul já não pode ser ignorada pela diplomacia de Brasil e Argentina. Numa coincidência que bem ilustra esse ambiente, ainda pleno de incertezas, a visita do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva a Eduardo Duhalde -o primeiro compromisso no exterior do petista após ser eleito- ocorreu no mesmo dia que marcou o fim do confisco de depósitos, imposto pelo então ministro argentino Domingo Cavallo há um ano.
A "irrestrita solidariedade" manifestada por Lula à população argentina veio recheada de frases ambiciosas sobre o Mercosul. O sucessor de FHC falou em construir uma "verdadeira união aduaneira" e mencionou a possibilidade da constituição de uma moeda única no bloco. Porém, para que se possa um dia atingir tais objetivos, é preciso descer a uma agenda mais realista nas relações bilaterais. O Mercosul real sempre foi menor do que o desenhado pela diplomacia brasileira e menor ainda se tornou após as crises recentes.
Exercendo na política externa a mania de copiar e magnificar os modelos do Primeiro Mundo, as elites brasileira e argentina quiseram realizar em poucos anos o que países europeus desenvolvidos levaram 35 anos para realizar. Nem sequer as principais questões atinentes ao livre comércio no Mercosul estão equacionadas. Mesmo assim partiu-se para uma açodada união aduaneira -estágio em que as tarifas de importação de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai seriam unificadas.
Mas a Tarifa Externa Comum (lastro da união aduaneira) está na prática suspensa, dada a quantidade de exceções que a negam. Melhor seria reconhecer que TEC, união aduaneira e moeda comum não são assuntos para o curto prazo no Mercosul. Há, por exemplo, investimentos em infra-estrutura e em harmonização regulatória que precisam ser feitos antes que a primeira tarefa do Mercosul (estabelecer um grande e definitivo laço comercial entre os quatro países) seja dada por cumprida.


Próximo Texto: Editoriais: VIOLÊNCIA E MORTE
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.