São Paulo, quinta-feira, 03 de dezembro de 2009

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Editoriais

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Obama imita Bush

À DIFERENÇA da invasão do Iraque, a Guerra do Afeganistão não pode ser questionada quanto à sua legitimidade. Logo após serem atacados pela Al Qaeda em setembro de 2001, os EUA deslocaram militares para a nação centro-asiática, onde o governo local dava proteção a líderes terroristas. Oito anos depois, a operação militar ainda não estabilizou o país.
Como afirmou ontem o secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, os extremistas do Taleban e da Al Qaeda se sustentam mutuamente. Se os Estados Unidos abrirem mão do combate no Afeganistão, as consequências não serão apenas locais, sendo previsível um aumento da capacidade de estruturação e articulação global de grupos terroristas.
Ainda assim, Obama hesitou. Passaram-se três meses desde que recebeu o pedido do general Stanley McChrystal, comandante das forças no Afeganistão, de aumento das tropas. Anteontem foi anunciado o destacamento de 30 mil militares ao país, que se somarão aos quase 70 mil americanos que lá estão, além dos 34 mil soldados de outras nações, sob o comando da Otan.
O democrata teme a associação entre seu governo e o de George W. Bush. Obama sofre pressões contrárias a incursões militares em seu partido e na sua base eleitoral. A decisão de aumentar a presença militar, no entanto, em grande medida o aproxima de Bush. Em janeiro de 2007, já desgastado politicamente, o republicano decidiu enviar ao Iraque, curiosamente, o mesmo número de novos combatentes ora previsto pelo democrata: 30 mil homens, um acréscimo de 30% no total das tropas.
Apesar do ceticismo generalizado, a estratégia deu certo. Os índices de violência baixaram aceleradamente. Uma delicada costura política entre grupos em disputa por poder também ajudou a desarmar os ânimos.
É fato que as diferenças entre os dois países não são negligenciáveis, e que o fragmentado Afeganistão impõe dificuldades maiores. Não seria, no entanto, assistindo ao avanço do Taleban que Obama alcançaria seu objetivo: ser capaz, em futuro não muito distante, de anunciar a retirada da maior parte das tropas americanas daquele país.


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