São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2010

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ELIANE CANTANHÊDE

Mais do que só vexame

BRASÍLIA - Bastou um funcionário irresponsável, um jornalista audacioso e uma ONG corajosa para que mais um mito da grande potência fosse jogado por terra, como as imagens de Lênin depois da debacle da União Soviética.
O constrangimento diante da avalanche de correspondências americanas ao redor do globo é de matar os jornalistas de rir e os diplomatas de chorar. Quem lucra é o cidadão do mundo.
Além do artigo de ontem na Folha, o embaixador Thomas Shannon tem ligado para Planalto e Itamaraty pedindo desculpas. Mas desculpas pelo vazamento, não pelo conteúdo. O que foi escrito foi escrito, ponto. Aliás, por seus antecessores, como Clifford Sobel.
Esse tipo de telefonema deve estar corroendo o tempo e os nervos de diplomatas americanos mundo afora. Eles têm de explicar o inexplicável. Primeiro, o tom de fofoca das mensagens sobre autoridades estrangeiras para Washington. Segundo, como o país da inteligência, que gasta bilhões por ano em armas, tecnologia e informática, se permite uma lambança dessas.
No Brasil, até agora, quem sai pior na foto é Jobim. O erro dele não foi falar que Samuel Pinheiro Guimarães era antiamericanista, mas saberem que ele falou para os americanos aquilo que todo mundo estava careca de saber.
No mais, a linguagem usada por Sobel, ou por seus assessores, é a trivial de qualquer embaixada -inclusive as brasileiras- ao se reportar às suas sedes. O que não dá para entender é a secretária de Estado, Hillary Clinton, pedindo DNA, íris e digitais do secretário-geral da ONU em qualquer tempo, seja ele Ban Ki-moon ou João, José, Maria.
Isso, sim, não é diplomacia. É coisa de CIA (EUA), Mossad (Israel) e BND (Alemanha), que criaram rocambolescamente um falso delator e falsas armas químicas apenas para justificar uma decisão já tomada: a de invadir o Iraque.
Assim os impérios desmoronam.

elianec@uol.com.br


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