São Paulo, quinta-feira, 04 de janeiro de 2007

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Bonança comercial

O COMÉRCIO exterior brasileiro voltou a surpreender em 2006. O superávit atingiu o valor recorde de US$ 46 bilhões, aumento anual de 3%.
As exportações cresceram 16,2% e alcançaram US$ 137,5 bilhões. Com a valorização do real, as importações, porém, se expandiram em ritmo mais acelerado (24,2%), tendo somado US$ 91,4 bilhões. A corrente de comércio (exportações mais importações) atingiu US$ 228,9 bilhões, 20% acima de 2005.
De 2003 a 2006, as vendas externas cresceram 128%, e as importações, 94%, permitindo a acumulação de um saldo comercial de US$ 150 bilhões. Supondo um resultado semelhante no próximo ano, o saldo comercial brasileiro no qüinqüênio equivalerá ao total da dívida externa. Daí a expressiva diminuição da vulnerabilidade da economia aos humores da finança global.
O saldo de 2006 esteve diretamente associado a alterações nas estratégias das grandes empresas. Elas passaram a exportar para aproveitar a melhora dos preços no mercado internacional, sobretudo no caso das commodities. Fizeram-no também para ocupar capacidade produtiva ociosa, dado o baixo dinamismo do mercado doméstico, e para proteger compromissos financeiros externos, gerando saldos em moeda estrangeira. Nem tudo, no entanto, são flores.
A valorização do câmbio vai inibindo a capacidade exportadora de setores mais intensivos em mão-de-obra (têxteis, calçados, móveis etc.), que sofrem a concorrência direta dos produtos asiáticos. A valorização do real desencadeia também crescimento expressivo nas importações de bens de consumo, que se expandiram 42,6%, sob a liderança dos automóveis (135,7%).
Diante desses dados contraditórios, não é trivial encontrar uma forma de consolidar os ganhos do Brasil no comércio exterior e na redução da sua dívida em moeda estrangeira. O fato mais preocupante é que, mesmo diante de toda essa bonança externa, a economia brasileira foi incapaz de encaminhar-se para um patamar superior na geração de renda e postos de trabalho.


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