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Bonança comercial
O COMÉRCIO exterior brasileiro voltou a surpreender
em 2006. O superávit
atingiu o valor recorde de US$ 46
bilhões, aumento anual de 3%.
As exportações cresceram
16,2% e alcançaram US$ 137,5 bilhões. Com a valorização do real,
as importações, porém, se expandiram em ritmo mais acelerado (24,2%), tendo somado US$
91,4 bilhões. A corrente de comércio (exportações mais importações) atingiu US$ 228,9 bilhões, 20% acima de 2005.
De 2003 a 2006, as vendas externas cresceram 128%, e as importações, 94%, permitindo a
acumulação de um saldo comercial de US$ 150 bilhões. Supondo
um resultado semelhante no
próximo ano, o saldo comercial
brasileiro no qüinqüênio equivalerá ao total da dívida externa.
Daí a expressiva diminuição da
vulnerabilidade da economia aos
humores da finança global.
O saldo de 2006 esteve diretamente associado a alterações nas
estratégias das grandes empresas. Elas passaram a exportar para aproveitar a melhora dos preços no mercado internacional,
sobretudo no caso das commodities. Fizeram-no também para
ocupar capacidade produtiva
ociosa, dado o baixo dinamismo
do mercado doméstico, e para
proteger compromissos financeiros externos, gerando saldos
em moeda estrangeira. Nem tudo, no entanto, são flores.
A valorização do câmbio vai
inibindo a capacidade exportadora de setores mais intensivos
em mão-de-obra (têxteis, calçados, móveis etc.), que sofrem a
concorrência direta dos produtos asiáticos. A valorização do
real desencadeia também crescimento expressivo nas importações de bens de consumo, que se
expandiram 42,6%, sob a liderança dos automóveis (135,7%).
Diante desses dados contraditórios, não é trivial encontrar
uma forma de consolidar os ganhos do Brasil no comércio exterior e na redução da sua dívida
em moeda estrangeira. O fato
mais preocupante é que, mesmo
diante de toda essa bonança externa, a economia brasileira foi
incapaz de encaminhar-se para
um patamar superior na geração
de renda e postos de trabalho.
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