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ELIANE CANTANHÊDE
E o FMI acabou no Irajá
BRASÍLIA - Considerado desde
Juscelino Kubitschek (às vezes de
forma equivocada) como uma fera
que devoraria as finanças nacionais
e "deixaria o povo morrendo de fome", o FMI socorreu dezenas de
países em crise ao longo de décadas
e está se transformando num leão
desdentado -e pobre. Ou melhor:
com bom dinheiro em caixa, mas
sem gerar renda.
Em interessante reportagem ontem, em "O Globo", o jornalista José Meirelles Passos relata como os
funcionários do fundo foram todos
serelepes para a "festa da firma" no
final do ano, esperando os tradicionais lagosta, caviar, champanhe importada e orquestras hollywoodianas, mas tiveram que correr depois
ao bar da esquina para encher a
pança. A lagosta e o caviar viraram
amendoim e azeitona.
E os funcionários ainda não viram nada. O FMI tem US$ 317 bilhões em caixa, fora reservas de
US$ 61,9 bilhões em ouro, mas vive
no dia-a-dia, digamos assim, com o
que recebe de juros dos seus devedores. Só que esses devedores cansaram-se de pagar juros e estão quitando suas dívidas antecipadamente -como já fizeram nove deles, inclusive o Brasil, a Argentina e o
Uruguai, só para ficar nos latino-americanos. A fonte de renda está
secando.
Com ela, seca a champanhe e estão para secar também salários e
benesses nada modestos que os diretores e funcionários do fundo recebem. O mesmo FMI que impõe
arrochos fiscais draconianos aos
países que financia, inclusive com
cortes de salários e aposentadorias,
é o que paga fortunas milionárias
aos seus principais executivos e
banca universidades para os filhos
de até 24 anos dos seus funcionários. Caso típico de "faça o que eu
digo, mas não faça o que eu faço".
Mas a moleza está acabando. Pelo
que disse Meirelles em sua reportagem, o poderoso e rico FMI, quem
diria?, vai trocando os camarões pelos espetinhos e corre o sério risco
de... acabar no Irajá.
elianec@uol.com.br
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