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CLÓVIS ROSSI
A direita deliciada
SÃO PAULO - Fernando Collor de Mello, logo ao assumir, disse que pretendia deixar "a direita indignada e
a esquerda perplexa".
Não é que Luiz Inácio Lula da Silva
está conseguindo produzir fenômeno
inverso? Está deixando a direita deliciada e a esquerda indignada.
Se houvesse alguma dúvida a respeito desse paradoxo, bastaria bater
os olhos no "Brazil Alert", boletim periódico sobre o país editado pelo CSIS
(Centro para Estudos Estratégicos e
Internacionais, uma instituição independente, mas muito mais próxima dos conservadores republicanos
do que dos democratas).
O número que saiu ontem diz que
"o Brasil parece estar se aproximando de um círculo virtuoso, como contraponto do vicioso do período abril/
outubro de 2002".
"Temos um novo presidente no
Brasil, aparentemente bem aceito até
mesmo entre os cínicos investidores",
completa o texto.
Em troca, o quinzenário "Opinião
Socialista", do PSTU (o trotskista
Partido Socialista dos Trabalhadores
Unificado) propõe, "para acabar com
a fome, romper com a Alca, o FMI e
Davos, demitir Meirelles e os ministros burgueses e atacar os banqueiros, não a aposentadoria".
Podem dizer que o PSTU é extremamente minoritário, como o demonstram os números eleitorais, mas
há uma fatia no próprio PT que parece pensar a mesma coisa. Só não diz
porque "está havendo um ambiente
de grande torcida pelo governo", como afirmou à Folha Paul Singer, um
dos mais admirados (e admiráveis)
economistas do partido.
O próprio Singer deve ter dado nó
na língua para não fazer alguma observação mais crítica à política econômica, como se percebe nitidamente na entrevista.
Nada contra a "torcida", mas convém sempre lembrar que a direita,
neste país, sempre teve muitos motivos para ficar deliciada -satisfação
que boa parte dos brasileiros jamais
ou raramente desfrutou.
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