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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O mundo e o meio ambiente
ESCREVO este artigo antes do
término dos trabalhos do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, que se
reuniu em Paris na semana que
passou. Pelos vazamentos já publicados, as previsões parecem ser catastróficas, a ponto de a ONU estar
considerando convocar uma reunião de emergência para tentar salvar o planeta.
Segundo aquele organismo, a
temperatura da Terra subirá cerca
de 3C até o fim do século, o que
afetará a vida de quase metade da
população do mundo. Com o aquecimento, as geleiras derreterão, o
nível dos oceanos subirá, o que
provocará enchentes e destruição
de 7 milhões de casas. Haverá uma
diminuição do volume de chuvas, o
que perturbará a agricultura e a
oferta de alimentos.
Os participantes daquele painel
acham que o Protocolo de Kyoto
será insuficiente para conter a devastação do planeta e, de lambuja,
incluem o Brasil como um dos países resistentes a conter a emissão
de gazes que aquecem a Terra.
Não há dúvida de que as medidas
de proteção da natureza são urgentes e necessárias. Mas convém escalonar os culpados com base em
dados concretos. Não quero acusar
ninguém, mas que não acusem o
Brasil indevidamente.
Li, recentemente, um trabalho
de um especialista que mostra um
Brasil bem diferente. Ele revela,
com uma abundância de dados,
que, há 8.000 anos, o Brasil possuía
9,8% das florestas mundiais, e que
hoje detém 28,3%. A Ásia possuía
cerca de 24%, e hoje tem só 5,5%. A
Europa, sem a Rússia, detinha mais
de 7% das florestas, e hoje tem apenas 0,1%. Ridículo! (Evaristo
Eduardo de Miranda, "Campeões
de desmatamento", "O Estado de S.
Paulo", 17/1).
Defendo que o desmatamento
predatório deva ser estancado já.
Todavia, em lugar de ser reconhecido pelo êxito, o Brasil é injustamente criticado pelos erros. Na
maioria dos países, a proteção da
natureza é coisa nova. No Brasil,
vem desde o século 16, diz o autor,
quando as Ordenações Manuelinas
impuseram regras e limites para a
exploração das terras, da água e da
vegetação.
O trabalho citado tem também
dados recentes para provar que o
Brasil é um dos países que mais
preservam sua cobertura florestal.
Detemos ainda cerca de 70% das
florestas primitivas. Por isso temos
muita moral para reagir contra ataques gratuitos de lobistas de grupos suspeitos.
É claro que devemos fazer o melhor. A proteção do meio ambiente
é condição essencial para o desenvolvimento econômico e social. Há
muita coisa errada que precisa ser
corrigida. Mas de jeito nenhum podemos ser incluídos entre os países
que mais prejudicam a natureza.
Lamentável exagero.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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