São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

O mundo e o meio ambiente

ESCREVO este artigo antes do término dos trabalhos do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, que se reuniu em Paris na semana que passou. Pelos vazamentos já publicados, as previsões parecem ser catastróficas, a ponto de a ONU estar considerando convocar uma reunião de emergência para tentar salvar o planeta.
Segundo aquele organismo, a temperatura da Terra subirá cerca de 3C até o fim do século, o que afetará a vida de quase metade da população do mundo. Com o aquecimento, as geleiras derreterão, o nível dos oceanos subirá, o que provocará enchentes e destruição de 7 milhões de casas. Haverá uma diminuição do volume de chuvas, o que perturbará a agricultura e a oferta de alimentos.
Os participantes daquele painel acham que o Protocolo de Kyoto será insuficiente para conter a devastação do planeta e, de lambuja, incluem o Brasil como um dos países resistentes a conter a emissão de gazes que aquecem a Terra.
Não há dúvida de que as medidas de proteção da natureza são urgentes e necessárias. Mas convém escalonar os culpados com base em dados concretos. Não quero acusar ninguém, mas que não acusem o Brasil indevidamente.
Li, recentemente, um trabalho de um especialista que mostra um Brasil bem diferente. Ele revela, com uma abundância de dados, que, há 8.000 anos, o Brasil possuía 9,8% das florestas mundiais, e que hoje detém 28,3%. A Ásia possuía cerca de 24%, e hoje tem só 5,5%. A Europa, sem a Rússia, detinha mais de 7% das florestas, e hoje tem apenas 0,1%. Ridículo! (Evaristo Eduardo de Miranda, "Campeões de desmatamento", "O Estado de S. Paulo", 17/1).
Defendo que o desmatamento predatório deva ser estancado já. Todavia, em lugar de ser reconhecido pelo êxito, o Brasil é injustamente criticado pelos erros. Na maioria dos países, a proteção da natureza é coisa nova. No Brasil, vem desde o século 16, diz o autor, quando as Ordenações Manuelinas impuseram regras e limites para a exploração das terras, da água e da vegetação.
O trabalho citado tem também dados recentes para provar que o Brasil é um dos países que mais preservam sua cobertura florestal.
Detemos ainda cerca de 70% das florestas primitivas. Por isso temos muita moral para reagir contra ataques gratuitos de lobistas de grupos suspeitos.
É claro que devemos fazer o melhor. A proteção do meio ambiente é condição essencial para o desenvolvimento econômico e social. Há muita coisa errada que precisa ser corrigida. Mas de jeito nenhum podemos ser incluídos entre os países que mais prejudicam a natureza.
Lamentável exagero.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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