São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2009

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RUY CASTRO

O maior crítico de cinema

RIO DE JANEIRO - Enquanto Antonio Moniz Vianna era vivo, parecia difícil escrever que ele pode ter sido o maior crítico de cinema do mundo em todos os tempos. No íntimo, Moniz gostaria de ouvir isso, porque tinha perfeita noção de seu valor. Mas não era algo a sair dizendo por aí. Podiam tentá-lo a voltar a escrever, e ele há muito dera as costas ao cinema e se aposentara.
Moniz morreu neste fim de semana, no Rio, aos 84 anos, e alguns de nós -outro é Sérgio Augusto- já podemos rasgar o verbo. Se Moniz Vianna não foi o maior crítico do mundo, quem seria? Os franceses André Bazin e Jacques Doniol-Valcroze? Os americanos James Agee, Otis Ferguson, Robert Warshow, Pauline Kael?
Esses eram críticos de revistas semanais -não precisavam ver tudo que saía e tinham tempo para caprichar no texto. Pois nem assim o que fizeram encosta em Moniz. Quanto a Dwight McDonald, Manny Farber e o nosso Paulo Emilio, não eram bem críticos, mas ensaístas. Nenhum deles dissecava um filme por dia, como fez Moniz no "Correio da Manhã", de 1946 a, incrível, quase fins dos anos 60.
Bosley Crowther fez crítica diária, mas suas anêmicas resenhas de 30 linhas no "New York Times" não se comparavam à meia página de jornal que Moniz dedicou a tantos filmes, iluminando-os com sua tranquila erudição em literatura, música, história, trívia e até ciências, não fosse ele médico.
E quem viu tanto cinema? Os críticos europeus perderam toda a produção de Hollywood na 2ª Guerra -só conheceriam aqueles filmes anos depois. E os americanos, com sua ojeriza a filmes com legendas, não tinham acesso normal à produção comercial europeia. Mas, no Brasil, Moniz assistia de Ann Sheridan a Marisa Allasio e de Gabby Hayes a Tina Louise e Cantinflas, e nos ensinava a ver de tudo.


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