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RUY CASTRO
O maior crítico de cinema
RIO DE JANEIRO - Enquanto
Antonio Moniz Vianna era vivo, parecia difícil escrever que ele pode
ter sido o maior crítico de cinema
do mundo em todos os tempos. No
íntimo, Moniz gostaria de ouvir isso, porque tinha perfeita noção de
seu valor. Mas não era algo a sair dizendo por aí. Podiam tentá-lo a voltar a escrever, e ele há muito dera as
costas ao cinema e se aposentara.
Moniz morreu neste fim de semana, no Rio, aos 84 anos, e alguns
de nós -outro é Sérgio Augusto- já
podemos rasgar o verbo. Se Moniz
Vianna não foi o maior crítico do
mundo, quem seria? Os franceses
André Bazin e Jacques Doniol-Valcroze? Os americanos James Agee,
Otis Ferguson, Robert Warshow,
Pauline Kael?
Esses eram críticos de revistas
semanais -não precisavam ver tudo que saía e tinham tempo para caprichar no texto. Pois nem assim o
que fizeram encosta em Moniz.
Quanto a Dwight McDonald,
Manny Farber e o nosso Paulo Emilio, não eram bem críticos, mas ensaístas. Nenhum deles dissecava
um filme por dia, como fez Moniz
no "Correio da Manhã", de 1946 a,
incrível, quase fins dos anos 60.
Bosley Crowther fez crítica diária, mas suas anêmicas resenhas de
30 linhas no "New York Times" não
se comparavam à meia página de
jornal que Moniz dedicou a tantos
filmes, iluminando-os com sua
tranquila erudição em literatura,
música, história, trívia e até ciências, não fosse ele médico.
E quem viu tanto cinema? Os críticos europeus perderam toda a
produção de Hollywood na 2ª
Guerra -só conheceriam aqueles
filmes anos depois. E os americanos, com sua ojeriza a filmes com
legendas, não tinham acesso normal à produção comercial europeia.
Mas, no Brasil, Moniz assistia de
Ann Sheridan a Marisa Allasio e de
Gabby Hayes a Tina Louise e Cantinflas, e nos ensinava a ver de tudo.
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