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ANTONIO DELFIM NETTO
Keynes,
de novo
HÁ DUAS SEMANAS , publicamos nesta mesma coluna
um "suelto" no qual reconhecíamos que o New Deal do presidente Roosevelt ajudou a superar
os aspectos mais dramáticos da
profunda recessão instalada em
1929 nos Estados Unidos, que era
então, como é hoje, o coração do
"capitalismo". Por outro lado, sugerimos que a "glamourização" do
New Deal como uma política "keynesiana" era equivocada.
A singela "prova" que apresentamos foi a seguinte: em 1937, a receita pública cresceu em resposta
às ações do New Deal, mas o nível
do PIB estava longe do "equilíbrio", (a taxa de desemprego era de
15%) e a expansão monetária (juntamente com o "corporatismo"
criado pelo New Deal) produziu
uma inflação de 4,7% (com o nível
dos preços muito abaixo dos de
1929). A resposta de Roosevelt foi
produzir um superávit fiscal e
(através do Fed) aumentar a taxa
de juros, o que gerou uma nova recessão em 1938, quando o PIB caiu
4,6%!. Tudo claro, simples e aborrecidamente numérico!
Felizmente, não. Fui honrado
com meia dúzia de observações de
leitores civilizados. Descobri que
existe uma seita de adoradores do
"keynesianismo hidráulico" tão
desinformada sobre o papel do
"mercado" (suas virtudes e problemas e sua relação com o Estado)
quanto a seita dos "neoliberais",
que, agora, depois da crise, tem um
"ar de cachorro que caiu do caminhão de mudança"...
Para tranquilizar mentes e corações dos keynesianos hidráulicos
mais sanguíneos, gostaria de sugerir-lhes a leitura do artigo (hoje
clássico) do grande economista
E.C. Brown, "Política Fiscal nos
Anos Trinta: uma Reavaliação"
("The American Economic Review", Vol. XLVI, December 1956:
857-879), cuja conclusão é clara e
irrefutável: "A política fiscal (obviamente, a de inspiração keynesiana) nos anos 30 parece não ter
sido bem sucedida, não porque não
funcionou, mas porque não foi tentada". Vão gostar. Estão lá todos os
velhos fantasmas que nos assombraram nos anos 50 do século passado.
Para os detratores do poderoso
Maynard, transcrevo frases (tradução livre) de uma carta que ele enviou a Roosevelt (1º de fevereiro de
1938): a política de 1937 "foi um erro de otimismo". Nela dá dois conselhos: 1º) "renovar os esforços no
gasto público" e 2º) tentar cooptar
o setor privado: "você pode fazer o
que quiser com ele"... "mas, sem
realinhá-lo no esforço comum, a
recuperação não acontecerá". Este,
aliás, é um bom conselho para certas autoridades brasileiras cujo autismo é manifesto.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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