São Paulo, quinta-feira, 04 de fevereiro de 2010

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KENNETH MAXWELL

Orçamentos e deficits

O ORÇAMENTO federal dos Estados Unidos para 2011 chegou ao Congresso nesta semana. É um volume imenso. E as projeções que apresenta são leitura cautelar.
Neste ano, o governo Obama calcula que o deficit venha a atingir US$ 1,6 trilhão, ou o equivalente a 10,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Como apontou o "New York Times" na terça-feira, esse nível de deficit não deixa de ter precedentes na história norte-americana.
Durante a Guerra Civil, a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial, os EUA operaram com imensos deficits. No entanto, eles eram considerados como exceções, e a expectativa era a de que recuassem assim que a paz retornasse e os gastos de guerra se reduzissem. Mas, desta vez, não se antecipa que retornarão em breve a níveis sustentáveis.
De fato, o orçamento projeta grandes deficits para os próximos dez anos, e antecipa que começarão a subir acentuadamente uma vez mais em 2019/20.
O orçamento de Obama é de US$ 3,8 trilhões e incorpora suas grandes iniciativas políticas, entre as quais a reforma da saúde, agora incerta. Educação, alimentos e a segurança dos medicamentos, bem como a pesquisa biomédica, recebem mais verbas. A defesa e a segurança interna também terão mais dinheiro. Os gastos com a Justiça caem em 13%.
Os republicanos do Congresso deixaram clara a sua oposição às propostas de Obama, e as recentes vitórias do partido em eleições na Virgínia, em Nova Jersey e em Massachusetts pouco o incentivam a colaborar.
Nem os democratas nem os republicanos do Congresso parecem capazes de mobilizar a vontade política necessária para enfrentar de forma efetiva os perigos que esses deficits representam para o futuro do país.
Os democratas, por exemplo, se opõem a cortes nas porções do orçamento reservadas por lei aos gastos previdenciários, e os republicanos não aceitam aumentos de impostos. Enquanto isso, os EUA continuam a se endividar para cobrir os deficits, a taxas de juros relativamente baixas. E alguns argumentam que as projeções de deficits mais altos não passam disso, de projeções, e que a realidade muitas vezes prova ser diferente.
Mas resta o fato de que a China é o principal credor dos Estados Unidos. E, em 2020, a dívida pública norte-americana terá atingido o patamar de 77% do PIB.
A questão que decorre disso é aquela que Lawrence Summers costumava fazer antes de se tornar o principal assessor econômico do presidente Obama: "Por quanto tempo o maior devedor do mundo pode continuar sendo a maior potência do mundo?".


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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