São Paulo, quarta, 4 de fevereiro de 1998

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O Deutsche Bank se desculpa

FERNANDO RODRIGUES
Brasília - Chegou ontem ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, uma carta de um membro do Conselho Diretor do Deutsche Bank, o sr. Ronaldo Hermann Schmitz.
O banco alemão resolveu pedir desculpas oficialmente ao governo brasileiro por causa das declarações de Kenneth Courtis, estrategista-chefe do Deutsche Bank para a região Ásia-Pacífico, com base em Tóquio.'
Em resumo, Courtis previra na semana passada que o Brasil não terá como evitar uma desvalorização do real. Isso aconteceria como efeito de uma eventual "segunda onda" da crise asiática.
Pois bem, os chefes de Courtis ficaram irritados com as previsões do economista. Pelo menos é o que dá a entender a carta recebida por Malan.
Eis um trecho: "Courtis (...) não está qualificado para emitir opiniões a respeito da América Latina em geral (...) tendo em vista estar completamente desligado da realidade regional". E mais: "Nossa opinião com relação ao Brasil é substancialmente diversa daquela expressa pelo sr. Courtis".
Em seguida, os elogios ao Brasil transbordam nas 21 linhas escritas pelo banqueiro alemão.
Em janeiro, o Deutsche Bank fez empréstimos à sua subsidiária brasileira num valor "superior a US$ 400 milhões". O banco considera que isso demonstra a "total confiança na condução da política econômica" do Brasil.
Além de se auto-imolar perante Malan, o diretor do Deutsche Bank informa que decidiu enviar ao Brasil o responsável no banco pelo setor de pesquisas em mercados emergentes, David Folkerts-Landau -um ex-funcionário de alto escalão do FMI.
Depois de dizer que está "tomando as devidas providências" em relação ao economista da Ásia, o Deutsche Bank termina a carta da maneira óbvia, mas impactante por se tratar da instituição financeira que é: "Gostaríamos de externar o nosso pedido de sinceras desculpas".
Simples mortais jamais conhecerão as tratativas para que documento desse teor fosse redigido. Mas que o relacionamento de FHC com os bancos é privilegiado, disso não resta dúvida.



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