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KENNETH MAXWELL
José Mindlin
JOSÉ MINDLIN , que morreu no
domingo passado, aos 95 anos,
foi uma figura altaneira na cultura do Brasil.
Minha última visita a ele e a sua
mulher, Guita, em março de 2004,
em sua casa no bairro do Brooklin
Paulista, foi realizada em companhia de meu colega Tomás Amorim, atualmente do escritório em
São Paulo do Centro David Rockefeller de Estudos Latino-Americanos, da Universidade Harvard.
Tomás, que é brasileiro, havia
trabalhado comigo no Conselho de
Relações Exteriores em Nova York
e posteriormente em Harvard.
Mas, quando era estudante na Universidade de Princeton, ele trabalhara para o dr. Peter Johnson, o
incansável bibliógrafo responsável
pelas coleções latino-americanas
na Biblioteca Firestone de Princeton e grande fã de José Mindlin.
A visita foi memorável, e a recordo com enorme prazer. O entusiasmo de Mindlin por seus livros e por
aqueles que amam os livros era
contagiante. Lembro a sala de livros antigos, o jardim bonito, a biblioteca principal, o encontro com
Cristina Antunes, responsável pelas coleções, e a gentileza de Mindlin e de sua esposa, com quem fora casado por quase 70 anos.
José Mindlin foi um homem notável, exibindo a um só tempo modéstia e grande determinação. Acima de tudo, ele foi um bibliófilo de
renome mundial. Desde que adquiriu seu primeiro livro raro, em
1927, aos 13 anos de idade, construiu sistematicamente uma coleção de mais de 38 mil livros, que inclui muitos títulos raros, bem como uma coleção fundamental de livros de temas brasileiros.
Quando o visitei, ele estava em
meio a negociações com a Universidade de São Paulo. Por fim, foi fechado um acordo pelo qual ele
doou grande parte de sua coleção à
USP, onde ficará abrigada em um
edifício construído especialmente
para isso, a Biblioteca Brasiliana
Guita e José Mindlin.
A doação de Mindlin é uma exceção extraordinária na história brasileira. Doar uma biblioteca tão rica para uma instituição estatal é
praticamente inédito. Mais comum é encontrar fragmentos de
coleções célebres com as dedicatórias arrancadas. Ou fora do Brasil.
A biblioteca do diplomata e historiador Oliveira Lima, por exemplo,
está na Universidade Católica da
América, em Washington, onde é
muito pouco utilizada. As grandes
pinturas holandesas, um grande legado ao país, devem ser procuradas
na Holanda ou na Dinamarca.
Mindlin, no entanto, assegurou
que os brasileiros teriam acesso às
suas notáveis coleções. E no Brasil.
O Brasil perdeu um de seus mais
eminentes intelectuais. Mas ficou
como maravilhoso legado a obra de
sua vida, que beneficiará por muito
tempo aqueles que estudam o país.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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